Dezenas de milhares de egípcios oraram nesta sexta-feira na praça Tahrir, no Cairo, pelo fim imediato do regime do presidente Hosni Mubarak. Líderes da oposição esperam reunir 1 milhão de pessoas para o que chamaram de 'Dia da Partida'.

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'Saia! Saia! Saia!', gritavam os manifestantes, curvando-se em oração na direção de Meca, e ouvindo um clérigo declarar: 'Queremos que o chefe do regime seja removido.' Ele celebrou a 'revolução dos jovens'.

Nos bastidores, os Estados Unidos atuam para que Mubarak, seu aliado nos últimos 30 anos, entregue o poder. O influente Exército egípcio também parece disposto a se dissociar do impopular ditador, de 82 anos.

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Mubarak promete não concorrer a um novo mandato na eleição de setembro, mas afirmou que uma renúncia imediata causaria caos no Egito. O presidente tradicionalmente se apresenta como um baluarte contra a ascensão de radicais islâmicos no mais populoso país árabe, hipótese que inquieta os Estados Unidos e Israel.

Alimentando tais temores, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, saudou o 'movimento islâmico de libertação' que, segundo ele, estaria tomando conta do Oriente Médio, e conclamou o Exército do Egito a se voltar contra Israel.

As manifestações do Cairo misturam ativistas laicos, de classe média, e pessoas de origem mais pobre, admiradores do grupo islâmico Irmandade Muçulmana. Na sexta-feira, dia mais sagrado da semana islâmica, muitos entoavam o grito de 'Allahu Akbar!' (Deus é grande).

Em sentido contrário ao regime do Irã, a Irmandade Muçulmana, principal grupo de oposição no Egito, declarou que não pretende ter candidato para a eleição presidencial de setembro. Na véspera, o governo afirmou que o grupo será legalizado e poderá participar de um diálogo nacional.

'ÚLTIMO DIA'

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Depois de dois dias de violentos confrontos entre partidários e opositores do regime, o clima nesta sexta-feira é festivo na Praça Tahrir (Libertação), epicentro dos protestos iniciados em 25 de janeiro no Egito.

'Hoje é o último dia!', gritavam os manifestantes, enquanto alto-falantes tocavam música pop árabe, e helicópteros militares sobrevoavam o local. Soldados mantinham a ordem sem intervir, e havia ambulâncias de prontidão.

Em inglês - para atender à audiência televisiva global - um cartaz declarava: 'Game over' (fim de jogo).

Os militares, em maior contingente do que na semana anterior, colocaram arame farpado e postos de controle nas ruas, dificultando o acesso à praça. O ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, foi ao local conversar com os militares.

A expectativa dos organizadores é que, ao final das preces da sexta-feira, 1 milhão de pessoas saiam às ruas contra Mubarak, igualando ou superando a mobilização da última terça-feira, numa inédita onda de protestos contra o regime.

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Muitos egípcios consideram que a saída de Mubarak em setembro já seria suficiente, e anseiam pela volta à normalidade no país. Outros, no entanto, querem que o presidente saia já.

Sem pedir explicitamente a renúncia imediata do ditador, os EUA e seus aliados ocidentais têm estimulado o governo a promover uma transição e realizar eleições. O Exército, embora não reprima os manifestantes, tampouco os protegeu quando homens à paisana tomaram as ruas nesta semana, armados, para agredir adversários do presidente.

Uma fonte oficial de alto escalão dos EUA disse na quinta-feira, sob anonimato, que Washington avalia diversos cenários para o Egito, inclusive a renúncia imediata de Mubarak. 'Esse é um cenário. Há diversos cenários, mas é errado sugerir que tenhamos discutido só um com os egípcios.'

Mubarak, no entanto, disse à TV ABC que não está disposto a sair já. Apesar de se declarar 'farto' do poder, ele afirmou: 'Se eu renunciar hoje, haverá caos.' 'Não me importo com o que as pessoas digam sobre mim. Neste momento me importo com o meu país.'

O jornal The New York Times disse, citando diplomatas árabes e norte-americanos, que Washington estaria discutindo um plano em que Mubarak entregaria o poder provisoriamente ao vice-presidente Omar Suleiman, com apoio do Exército egípcio.

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Mas uma fonte egípcia de alto escalão disse ao jornal que a Constituição não autoriza isso. 'Essa é a minha resposta técnica. Minha resposta política é que eles deveriam cuidar dos seus assuntos', afirmou a fonte, segundo o jornal.

Suleiman também demonstrou irritação com a interferência dos EUA, numa entrevista concedida na quinta-feira a uma TV: 'Há algumas formas anormais pelas quais países estrangeiros vêm interferindo, por meio de declarações na imprensa e notas. Isso foi muito estranho, dada as relações amistosas entre nós e eles.'

Muitos manifestantes rejeitam Suleiman como alternativa.

Amr Moussa, secretário-geral da Liga Árabe e ex-chanceler egípcio, disse que Mubarak deveria permanecer até a eleição de setembro. No entanto, ele alertou, cautelosamente, que 'há coisas extraordinárias acontecendo, há caos, e talvez ele tome outra decisão'.

Citado por alguns como possível sucessor, Moussa disse à rádio francesa Europe 1 que cogitaria concorrer à Presidência.

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A ONU estima que 300 pessoas tenham morrido nos distúrbios do Egito, inspirados em parte pela rebelião popular que derrubou o governo da Tunísia no mês passado, e que se espalhou também para outros países do Oriente Médio, da Mauritânia ao Iêmen.