A primeira fase das eleições legislativas do Egito começa na segunda-feira (28) e os eleitores do país têm pela frente um complicado quadro político, onde a inúmeros novos partidos formados após a revolução se somam velhos conhecidos, entre eles a Irmandade Muçulmana.
Mais de 50 partidos e coalizões concorrerão às vagas na Assembleia do Povo (Câmara Baixa) e na Shura (Câmara Alta), o maior número na história das eleições do Egito, país marcado por mais de três décadas pela onipresença do extinto Partido Nacional Democrático (PND).
O grande favorito é o Partido Liberdade e Justiça (PLJ), da Irmandade Muçulmana, que após passar quase 60 anos na clandestinidade sonha agora conquistar entre 40% e 50% das cadeiras do Parlamento, o que abriria caminho para a conquista do poder no país. Desta maneira, a organização egípcia seguiria o mesmo caminho trilhado pela Irmandade tunisiana.
O grupo conta com uma grande capacidade de mobilização, prova disso foi o sucesso obtido nas eleições de 2005, durante o governo de Hosni Mubarak, quando conseguiu 88 assentos no Congresso.
O PLJ, constituído após a Revolução de 25 de Janeiro, se apresenta como uma legenda islâmica moderada e aberta a todos os egípcios. Suas reivindicações, no entanto, vão ao encontro da maioria muçulmana de um país muito conservador, e pedem que a "sharia" (as rigorosas leis islâmicas) sejam a base da Constituição.
O partido concorre à eleição como integrante da coalizão Aliança Democrática, que inclui grupos como o Al Ghad (O Amanhã), de tendência laica liberal; o Karama (Dignidade), de viés laico esquerdista; e o salafista Partido Reforma e Renascimento,
O rival da Irmandade Muçulmana é o Bloco Egípcio, de tendência laica liberal, liderado pelo Partido dos Egípcios Livres, também criado após a revolução.
Apesar de ter sido financiado pelo magnata cristão Najib Sawiris, o Partido dos Egípcios Livres não se descreve como uma legenda copta, embora deva receber um forte apoio desse grupo, composto por aproximadamente 80 milhões de pessoas (10% da população do Egito)
Após o Partido Social-Democrata ter anunciado sua intenção de não participar da campanha, por acreditar que não é possível realizar uma eleição livre sob o jugo da Junta Militar, o Bloco Egípcio seria composto apenas pelo Partido dos Egípcios Livres e o esquerdista Tamagu.
Este grupo e a Aliança Democrática se situam no centro do mapa político do país. Nos extremos aparecem a esquerdista Coalizão Completar a Revolução, e os fundamentalistas da Aliança Islâmica.
O líder dessa aliança é o Al Nour, primeiro partido de tendências religiosas radicais formado após a revolução. O bloco conta ainda com o Partido Construção e Desenvolvimento, braço político da Gama al Islamiya, grupo terrorista que deixou as armas em 1998.
No extremo oposto, está a Aliança Completar a Revolução, que procura conquistar os votos dos eleitores de esquerda com legendas como a Aliança Popular Socialista, o Partido Socialista Egípcio e o Egito Livre. A aliança conta também com formações religiosas, como o sufista Partido da Libertação Egípcia.
Este grupo, que abrange movimentos religiosos e laicos, também é composto por muitas organizações juvenis e poderia ser uma opção de voto de muitos revolucionários.
Além dessas quatro grandes coalizões, formações independentes também irão concorrer nas eleições, como o Wafd, o partido mais antigo do país, os nasseristas, de tendência pan-arabista, ou o Partido Egito Livre, criado este ano pelo cientista político Amr Hamzawy e por jovens ativistas.
E mesmo após nove meses do início da revolta popular, a sombra de Mubarak continua presente, pois vários partidos originários do extinto PND vão concorrer às vagas no Parlamento, já que a Comissão Eleitoral do país afirmou que não há tempo de aplicar um decreto-lei para impedir que isso aconteça.
Por isso, até mesmo ex-secretários gerais do partido, como Hosam Badrawy e Mohammed Ragab vão disputar as eleições pelo Partido Federação e o Partido dos Cidadãos Egípcios.
Em meio a este intricado mosaico, o Egito tem pela frente o desafio de consolidar a democracia no país, que está sofrendo com uma transição cambaleante, e de recuperar a credibilidade dos políticos, fortemente abalada após os distúrbios dos últimos dias.