Longe do caos, violência e abusos das eleições durante o regime do ex-presidente Hosni Mubarak, eleitores egípcios esperavam em filas enormes e ordenadas nesta segunda-feira, com muitos ainda sem acreditar que agora podiam desempenhar um papel para moldar o futuro da nação.
Alguns trouxeram seus filhos, enquanto outros seguravam suas pastas a caminho para o trabalho. Cartazes expunham propaganda de partidos proibidos durante o governo de Mubarak, que foi derrubado por um levante popular em fevereiro após 30 anos de regime.
Muitos egípcios suspeitam que os generais que substituíram Mubarak querem exercer o poder nos bastidores, mesmo depois de entregarem o governo do dia-a-dia para os civis, e alguns temem o ressurgimento da fraude eleitoral.
Mas nesta segunda-feira a maioria das pessoas simplesmente apreciava o que para muitos era a primeira vez em que se preocupavam em votar.
"Antes, nós sabíamos de antemão quem ia dominar. Então, a apatia era a ordem do dia. Hoje, nós não sabemos qual será o resultado. Os eleitores estão energizados", disse Etimad Sameh, motorista de táxi de 48 anos que esperava sua vez de votar na segunda maior cidade do Egito, Alexandria.
Perto dali, cartazes afixados em paredes e faixas penduradas em postes incitavam os eleitores a escolher os candidatos do ultraconservador islâmico Al-Nour, partido da Irmandade Muçulmana, ou do partido centrista islâmico Wasat.
Esses partidos foram banidos ou bloqueados durante o regime de Mubarak.
As preocupações de que a votação poderia ser marcada por violência, depois de confrontos durante os protestos contra o regime militar no Cairo e outras cidades na semana passada, até agora se mostraram injustificáveis.
As filas de votação indicavam o espectro social do Egito. Mulheres em lenços islâmicos ou usando cruzes do Cristianismo Copta esperavam ao lado de outras vestindo jeans apertados e com os cabelos expostos. Homens de terno estavam ao lado daqueles usando as tradicionais vestes "galabiya".
O Partido da Liberdade e Justiça, da Irmandade Muçulmana, que passou décadas construindo uma rede enraizada apesar da proibição durante o regime de Mubarak, deve ter bom resultado. No tempo de Mubarak, a Irmandade obteve muitos votos de protesto. Agora, enfrenta novos adversários com o surgimento de partidos islâmicos e outros nos últimos nove meses.
Heba Salah, de 30 anos e vestindo um lenço na cabeça, disse que estava votando para impedir que a Irmandade domine a política.
"Eu vim para votar contra a Irmandade Muçulmana, que abusa da religião para atrair as pessoas e ganhar adeptos", disse ela, esperando em um posto de votação no distrito Nasr, no Cairo.
Na segunda-feira, soldados foram posicionados ao redor dos locais de votação, em muitos casos superando a força policial, ainda odiada. O conselho militar que governa o país prometeu garantir uma votação livre, justa e segura.
Durante o período em que Mubarak governou o país, as eleições eram rotineiramente fraudadas e seu partido, o Democrático Nacional, conquistava repetidamente a maioria esmagadora das cadeiras no Parlamento.
A primeira das três fases da eleição parlamentar, nesta segunda-feira e na terça-feira, abrange 17 milhões de eleitores e inclui as cidades do Cairo e Alexandria.
A eleição só terminará em 11 de janeiro.
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