O desespero das autoridades do Egito para conseguir uma participação massiva nas urnas teve reflexo nesta terça-feira (27) na decisão de ampliar as eleições presidenciais em mais um dia e nas ameaças de sanções aos que se abstiverem.
A Comissão Eleitoral Suprema decidiu estender até quarta-feira (28) o processo eleitoral para "dar a oportunidade de votar aos egípcios que vivem longe de suas seções eleitorais e aos que não puderam pela onda de forte calor" que atinge o país.
Além disso, o governo ofereceu transporte gratuito aos cidadãos que tiverem que ir para outra província para votar, segundo a emissora de televisão estatal.
Após esses gestos inusitados, os comitês de campanha do ex-ministro da Defesa Abdul Fatah al Sisi e do esquerdista Hamdin Sabahi se mostraram totalmente contrários à prorrogação do prazo.
A equipe de Sisi não explicou o motivo de sua oposição, enquanto o comitê de Sabahi garantiu em comunicado que existem "pressões fortes e claras de diferentes partes - das quais não citou - para dar mais tempo para um cenário que ninguém conseguiu impor aos egípcios em dois dias", em alusão à participação elevada que era esperada.
Sabahi pediu a apuração "imediata" dos votos depositados nas urnas nos dois dias e considerou que a mudança no calendário levanta "muitas dúvidas sobre a integridade do processo".
As seções eleitorais fecharam nesta terça (27) às 21h locais (15h de Brasília) e na quarta manterão o mesmo horário, abrindo às 9h locais (3h de Brasília).
As seções eleitorais pareciam desertas durante o segundo dia das eleições, não se sabe se por preguiça, calor, pela vitória provável de Sisi, ou porque seus seguidores já votaram.
Os egípcios deram a impressão de que foram superados pelo desânimo na hora de comparecer às urnas para escolher seu segundo presidente em menos de dois anos.
Apesar de ter sido decretado feriado hoje com a intenção de favorecer um maior comparecimento dos eleitores, o dia teve participação visivelmente menor do que ontem, quando não passou de 15%, segundo dados não oficiais da campanha de Sabahi.
Uma integrante dessa equipe, Rabab Zinedin, comentou que "ninguém está interessado em votar, pois todos sabem que Sisi vai ganhar".
Por causa dos indícios de baixa participação, o primeiro-ministro egípcio, Ibrahim Mehleb, ameaçou multar quem não votar com 500 libras egípcias (cerca de 52 euros), conforme determina a legislação.
Mehleb garantiu que o governo está tentando dar "total transparência e imparcialidade" ao processo, apesar das denúncias de irregularidades feitas pela campanha de Sabahi e de organizações que acompanham a votação.
O Sindicato de Jornalistas do Egito garantiu que recebeu pelo menos 29 denúncias de queixas e violações contra os profissionais encarregados da cobertura do pleito.
A Aliança para a Defesa da Legitimidade, liderada pela Irmandade Muçulmana, opinou que os egípcios, e concretamente os jovens (36,5% dos eleitores têm menos de 30 anos), não compareceram às urnas nos primeiros dois dias "em rejeição a essa pantomima sangrenta", como definiram o pleito.
Em comunicado, assegurou que a pouca participação significa "uma reprovação popular e um boicote ao governo militar golpista e a todas as suas práticas de injustiça e corrupção".
No segundo turno das eleições presidenciais anteriores, realizadas em junho de 2012, compareceram às urnas 51,85% dos quase 51 milhões de egípcios aptos a votar.
O candidato islamita, Mohammed Mursi, foi eleito com mais da metade dos votos. No dia 3 de julho de 2013, foi derrubado por um golpe de Estado militar que iniciou o atual processo político que resultou nas eleições presidenciais atuais.
O pleito desta semana e o referendo constitucional de janeiro foram apresentados como uma consulta sobre a confirmação de Sisi como autoridade máxima do país.
A Constituição foi referendada com uma participação de 38,6% dos eleitores, o que as autoridades interinas interpretaram como o apoio ao plano dos militares, apresentado após o golpe contra Mursi.
A baixa participação nas eleições atuais representa agora um grande empecilho para Sisi, que pretende ser legitimado como o "homem forte" que o país necessita nesse momento de instabilidade.
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