Após tiroteio na mesquita de Al Fateh, na Praça Ramsés, no Cairo, o prédio foi completamente evacuado, de acordo com fontes das Forças Armadas, conforme noticiou a BBC Brasil. Centenas de apoiadores da Irmandade Islâmica, que pede a volta do presidente deposto Mohamed Mursi, estavam na mesquita. Vários manifestantes que permaneciam em frente ao local, formando uma barricada humana, foram presos.
Imagens da TV egípcia mostraram troca de tiros entre um homem em uma das torres da mesquita e as Forças Armadas, que estavam do lado de fora. Policiais chegaram a entrar na mesquita para tentar convencer os manifestantes a deixarem o local. Porém, os apoiadores de Mursi disseram que não acreditavam na promessa do governo de que poderiam sair de maneira segura, por isso se recusaram a deixar a mesquita.
De acordo com a agência Lusa, mais cedo, o porta-voz do Conselho de Ministros, Sherif Shauqi, disse que o governo está avaliando "meios jurídicos" para dissolver a Irmandade Islâmica, que pede a volta de Mursi ao poder, que foi deposto pelo Exército. Um governo interino assumiu o comando do país.
Ontem (16), um violento confronto entre a polícia e membros da Irmandade resultou na morte de 173 pessoas (conforme últimos dados das autoridades de saúde do Egito) e a prisão de mil manifestantes. Esse último confronto ocorreu depois que um protesto organizado pela Irmandade Islâmica que tomou novamente as ruas do Cairo em resposta aos atos do governo egípcio, que desocupou os dois acampamentos do grupo na capital - a ação deixou pelo menos 638 mortos e milhares de feridos.
Enquanto isso, o primeiro-ministro interino, Hazem el-Beblawi propôs dissolver legalmente a Irmandade Muçulmana, e o governo está estudando a ideia, disse o porta-voz Sharif Shawky. Beblawi fez a proposta ao ministro de Assuntos Sociais - Ministério responsável por licenciar entidades não governamentais.
"Nenhuma reconciliação será concluída com aqueles cujas mãos estão manchadas de sangue. Nenhuma reconciliação pode ser celebrada com alguns direcionando armas para civis", afirmou Beblawi, acrescentando que as mortes de sexta-feira são decorrentes de confrontos entre moradores e manifestantes.
A Irmandade foi dissolvida pelo regime militar do Egito em 1954, mas se registrou como uma organização não governamental em março, em resposta a um processo legal movido por opositores do grupo que contestavam sua legalidade.
Mais cedo, a polícia de choque montou guarda do lado de fora da mesquita al-Fatah. Enquanto tanques protegiam a entrada dos fundos da mesquita, alguns agentes entraram no edifício para tentar convencer os manifestantes a deixarem o local. Um pequeno grupo de mulheres foi o primeiro a sair, escoltado por policiais.
Nesta manhã, no momento em que aproximadamente 30 pessoas deixavam a mesquita sob a custódia dos soldados governamentais, opositores de Mursi tentaram agredir e pressionar o grupo.
Manifestantes disseram à BBC há dois corpos dentro da mesquita - um delas de uma mulher que morreu após o disparo de bombas de gás lacrimogêneo durante a noite e outro de um homem levado para dentro do prédio após sofrer ferimentos de bala. Eles disseram que os manifestantes têm água potável, mas há apenas um banheiro.
Simpatizantes de Mursi preparam novas manifestações, aumentando a probabilidade de mais violência. Autoridades egípcias anunciaram ter prendido 1.004 "elementos da Irmandade Muçulmana", o mais poderoso movimento islâmico do Egito, sendo 558 no Cairo. Em comunicado, o ministério citado apontou que as detenções estão sendo realizadas em todas as províncias durante as operações para fazer frente às "tentativas terroristas de elementos da Irmandade Muçulmana, que deseja empurrar o país para um ciclo de violência".
Uma nova contagem do Ministério da Saúde afirma que o número de civis mortos na sexta-feira chega a 173, sendo 95 no Cairo, o que elevaria o total de vítimas desde quarta-feira para cerca de 750.
Entre os mortos, está Ammar Badie, filho do líder religioso da Irmandade Muçulmana Mohammed Badie. Ele foi morto após ser baleado enquanto participada de protestos na Praça Ramsés. Ele havia sido indiciado por incitação de violência e participaria do julgamento que será iniciado em 25 de agosto.