Assédio sexual, altas taxas de mutilação genital feminina e um aumento da violência de gênero após os levantes da Primavera Árabe fazem do Egito o pior país do mundo árabe para as mulheres. Leis discriminatórias e o aumento no tráfico também contribuíram para o país ocupar a 22ª posição do ranking, de acordo com uma pesquisa da Thomson Reuters Foundation divulgada nesta terça-feira. Na posição oposta estão as Ilhas Comores, na primeira colocação.
Apesar das esperanças de que as mulheres seriam uma das principais beneficiárias da Primavera Árabe, e de suas participações ativas durante as manifestações, elas têm sido uma das maiores prejudicadas, uma vez que as revoltas trouxeram conflito, instabilidade, deslocamento e um crescimento de grupos islâmicos conservadores em muitas partes da região, dizem especialistas.
"Nós tiramos o Mubarak do nosso palácio presidencial, mas ainda temos que tirar o Mubarak que vive em nossas mentes e em nossos quartos", aponta a colunista egípcia Mona Eltahawy, referindo-se ao ditador deposto Hosni Mubarak.
"Como mostram os resultados miseráveis da pesquisa, nós, mulheres, precisamos de uma dupla revolução: uma contra os vários ditadores que arruinaram os nossos países e outra contra uma mistura tóxica de cultura e religião que arruinou nossas vidas como mulheres".
O Iraque ficou na segunda pior posição, seguido por Arábia Saudita, Síria e Iêmen na lanterna do ranking. Na outra ponta, as Ilhas Comores são o melhor país árabe para ser mulher - lá, elas ocupam 20% dos cargos ministeriais, e as esposas geralmente ficam com as terras ou a casa após o divórcio. O arquipélago é seguido por Omã, Kuwait, Jordânia e Qatar nas primeiras posições.
A pesquisa entrevistou 336 especialistas em gênero, em 21 Estados da Liga Árabe, além da Síria - um dos membros fundadores da liga, que foi suspenso em 2011. As perguntas foram baseadas nas disposições da Convenção das Nações Unidas para Eliminar Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (CEDAW, na sigla em inglês), que 19 países árabes assinaram ou ratificaram.
A pesquisa avaliou a violência contra a mulher, direitos reprodutivos, o tratamento no âmbito da família, a integração na sociedade e atitudes em relação ao papel da mulher na política e na economia.