Considerado por muitos no Egito um herói nacional, a ponto de até o quererem ver na presidência, Abdel Fattah al Sisi já lançou uma campanha para uma hipotética candidatura a chefe de governo.
A campanha, que começou oficialmente neste domingo (15), é chamada de "Kamel gemilak" (Completa tua obra), e pretende arrecadar 30 milhões de assinaturas de cidadãos para pedir a Sisi que concorra às eleições presidenciais, cuja data ainda não foi anunciada.
Os organizadores da iniciativa estabeleceram esta meta porque calculam que é mais ou menos o mesmo número de egípcios que no dia 30 de junho foram às ruas para pedir a saída do poder do líder islamita Mohammed Mursi.
Seu ideia é inspirada no grupo "Tamarrud" (Rebelião), que disse ter recolhido 22 milhões de assinaturas contra Mursi e incitou os protestos que desencadearam a sua deposição em um golpe militar no dia 3 de julho.
Na opinião dos responsáveis pela iniciativa, em um país com mais de 80 milhões de habitantes, o fato de que 30 milhões irem às ruas para protestar contra Mursi deu o poder para Sisi depor o islamita três dias depois.
"Sisi irá respeitar os pedidos do povo e se candidatar às eleições presidenciais, porque é a pessoa mais adequada para presidir o Egito na atualidade, que tem muitos inimigos na região", explicou à Agência Efe um porta-voz de "Kamel gemilak", Wael Abu Sheisha.
A campanha já dispõe de uma sede no centro do Cairo e de representantes em países árabes e europeus, além de uma conta no Facebook, onde publica seus formulários.
Vários empresários egípcios mostraram sua vontade de financiar a campanha, que durará cerca de nove meses, e que até agora, segundo Abu Sheisha, consiste em uma somatória de esforços individuais. Durante este período, o cidadão pode assinar o formulário por escrito ou através do site de "Kamel gemilak".
Para alcançar o maior número de egípcios, os coordenadores da iniciativa querem gravar vídeos de 50 segundos nos quais cidadãos pedem a Sisi que se candidate às eleições presidenciais.
"É uma campanha popular de civis que optam por um militar como presidente do Egito, que pode tomar decisões sem retroceder nem hesitar, como faziam os faraós", disse o porta-voz da campanha.
Nos formulários se destaca que o signatário elege a Sisi porque este corresponde à vontade do povo, por ter legitimado a revolução, unificado os egípcios sob a democracia e recuperado o prestígio do Egito.
Desde o golpe militar de há dois meses, muitos viram em Sisi um salvador, embora outros tenham alertado sobre a possibilidade de, uma vez transformado no "força" do país, queira ocupar também formalmente a chefia de Estado.
Para alguns cidadãos contrários ao golpe militar, como o jovem empresário Walid al Gabri, a campanha de apoio a Sisi não é surpreendente, já que "é normal que os golpistas queiram melhorar sua imagem, tirando o traje militar de Sisi e convertendo-o no presidente do país".
"Sisi é um herói nacional falso. Depois da revolução de 25 de janeiro de 2011, já não queremos mais militares na Presidência do país. A personalidade de um militar é inadequada para o posto de presidente", destacou Gabri, que não descarta que a campanha "Kamel gemilak" consiga muita influência nas ruas.
O chefe do Exército, por outro lado, disse em várias ocasiões que não quer assumir a presidência e que as Forças Armadas não anseiam o poder. Estas declarações de Sisi incentivaram o movimento "Kamel gemilak", afirmou o porta-voz da campanha.
Também o ex-primeiro-ministro Ahmed Shafiq, que disputou o segundo turno das eleições com Mursi, disse nesta semana que se Sisi anunciar sua candidatura, ele se absteria de participar das eleições presidenciais e daria todo seu apoio ao general.
Concorrendo ou não às eleições, o general criou um certo simbolismo à volta de sua imagem, vestido sempre de uniforme, protagoniza cartazes, camisetas e outros souvenires.
Em muitas lojas e casas são expostas, além de bandeiras do Egito, cartazes de Sisi, cujo retrato foi utilizado inclusive para enfeitar os doces e chocolates de uma conhecida confeitaria do centro da capital.
Depois de 60 anos de militares na frente do país (1952-2012), o Egito pode estar se preparando para o retorno de mais um deles ao Palácio Presidencial.