O Egito foi palco de um novo episódio de violento conflito sectário. Cristãos coptas ortodoxia cristã que compõe aproximadamente 10% da população do Egito se enfrentaram ontem com a polícia militar no Cairo. Pelo menos 23 pessoas morreram e quase 200 ficaram feridas. As autoridades egípcias impuseram um toque de recolher na região central da cidade após os distúrbios.
Os cristãos protestavam contra o ataque a uma igreja, na semana passada. Eles atiraram pedras e puseram fogo em veículos, em um dos confrontos mais violentos desde as revoltas que derrubaram o ditador egípcio Hosni Mubarak, em fevereiro. Centenas de manifestantes foram à Praça Tahrir, mesmo foco dos protestos do início deste ano, e pediram a saída do conselho militar que lidera o Egito desde a queda do antigo líder.
O Exército conteve com violência os protestos. Ativistas acusam as forças militares de ter atropelado manifestantes, e compararam a repressão com aquela praticada pelo regime deposto.
Apelo
O primeiro-ministro egípcio, Essam Sharaf, fez um apelo aos muçulmanos e cristãos do país para que não cedam à luta sectária. "O que está acontecendo não são confrontos entre muçulmanos e cristãos, mas tentativas de provocar o caos e divergências", disse ele em sua página no Facebook. "Isso não é condizente com os filhos da pátria que continuam e continuarão a ser uma única mão contra as forças do vandalismo e do extremismo."
A tensão entre cristãos e muçulmanos tem escalado desde o início do ano (veja quadro ao lado). Coptas culpam muçulmanos radicais pela depredação de uma igreja na província de Assuã, na semana passada. Os cristãos pedem que Mostafa al Sayed, governador da província, seja deposto por não ter conseguido proteger a construção religiosa.
Depoimentos
Os manifestantes disseram que o protesto começou como uma tentativa pacífica de ocupar o prédio da televisão estatal, mas foram atacados por grupos de homens à paisana que jogaram pedras e fizeram disparos contra eles. "O protesto era pacífico. Nós queríamos realizar uma ocupação, como costumamos fazer", disse Essam Khalili, um manifestante que usava uma camisa branca com uma cruz desenhada. "Os grupos nos atacaram e um veículo militar subiu na calçada e atropelou pelo menos dez pessoas. Eu vi."
Wael Roufail, outro manifestante, fez descrições semelhantes do ocorrido. "Eu vi o veículo ir atrás dos manifestantes. Então, eles abriram fogo contra nós", disse ele.
Imagens mostradas pela televisão mostram alguns manifestantes coptas atacando um soldado, enquanto um sacerdote tenta proteger o militar.
Os cristãos dizem que o conselho militar do Egito tem sido muito leniente com aqueles que realizam ataques contra cristãos desde a queda de Hosni Mubarak em fevereiro.