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O mundo está cheio de capitais nacionais planejadas: Washington, Brasília e São Petersburgo, que foi a capital da Rússia czarista, talvez sejam os exemplos mais famosos. Entretanto, a construção de uma nova cidade para receber a estrutura administrativa do governo de um país não é coisa do passado.
Hoje, novas capitais nacionais estão sendo construídas ou planejadas em alguns países. As razões para esses projetos variam, mas eles têm algumas características em comum, como os custos exorbitantes e as críticas à ideia. Confira abaixo alguns casos:
Egito
O projeto, chamado por enquanto de Nova Capital Administrativa (ainda não foi escolhido um nome definitivo), teve suas obras iniciadas em 2015 e alguns ministérios e órgãos governamentais já foram realocados para a cidade.
Os custos das obras já superam os US$ 50 bilhões e a nova capital, localizada a 45 quilômetros do Cairo, foi planejada com o objetivo de aliviar a superpopulação da capital atual.
Entre as obras exuberantes da nova capital, está a mesquita Al-Fattah al-Aleem, inaugurada em 2019 e que é a segunda maior do mundo em área total. Entretanto, ainda não há prazo para a cidade ser concluída.
Para bancar parte dos altíssimos custos, a Nova Capital Administrativa integra a Nova Rota da Seda, o megaprojeto chinês de investimentos em infraestrutura que tem endividado governos de países emergentes em todo o mundo.
Em relatório publicado este mês, o think tank britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês) apontou outro problema: o risco da nova capital se tornar inacessível para grande parte da população egípcia.
“As residências na nova cidade são proibitivamente caras. Mesmo antes da sua conclusão, construtoras privadas têm veiculado anúncios de novos condomínios fechados exclusivamente em inglês e enfatizado o luxo destes espaços habitacionais”, afirmou.
Indonésia
A atual capital da Indonésia, Jacarta, está afundando devido à elevação do nível do mar, à superpopulação e à subsidência de terras, o que fez o presidente Joko Widodo anunciar em 2019 a construção de uma nova capital na província de Kalimantan Oriental, na ilha de Bornéu.
A nova cidade, Nusantara, tem custo estimado de US$ 35 bilhões e a intenção é que seja inaugurada em 17 de agosto de 2024, aniversário da independência do país.
O projeto foi rejeitado por grande parte da população de Jacarta (95,7% dos entrevistados numa pesquisa de 2019 afirmaram não concordar com a mudança), sofreu atrasos com a pandemia de Covid-19 e se depara com a incerteza dos investidores, porque Widodo deixará a presidência em 2024 e não se sabe se quem o sucederá levará adiante a obra.
O candidato à presidência Anies Baswedan declarou em novembro ser contrário à transferência da capital para Nusantara.
“O que é necessário hoje na Indonésia é um crescimento equitativo, onde o desenvolvimento seja conduzido não apenas num local, mas em muitos locais”, afirmou, segundo informações do jornal The Straits Times.
Coreia do Sul
Sejong, localizada a 125 quilômetros da atual capital sul-coreana, Seul, é uma cidade que já saiu do papel: as obras começaram em 2007 e em 2012 seus primeiros habitantes chegaram à nova capital, para onde alguns ministérios e órgãos governamentais já foram transferidos. A transferência completa deve ocorrer até 2030.
Os objetivos principais da mudança são reduzir o congestionamento em Seul e promover o desenvolvimento da região central da Coreia do Sul. O plano é que Sejong seja um exemplo de cidade verde, já que mais da metade do território da cidade será composta de áreas verdes.
Porém, a obra também foi alvo de críticas. Yoo Hyun-joon, professor de arquitetura na Universidade Hongik, de Seul, disse em entrevista em 2019 ao site U.S. News & World Report que o governo sul-coreano deveria ter se concentrado em resolver problemas de Seul ao invés de ter investido em outra capital.
“Especialmente num país pequeno como a Coreia do Sul, ter todos os recursos concentrados em Seul não deveria ser um problema”, afirmou o especialista, que também criticou as divisões de Sejong em anéis sem ligações suficientes entre eles.
“É difícil criar comunidades ali. Tudo gira em torno dos automóveis e, se você for lá, verá que a maioria dos pais jovens é de servidores da administração pública. De certa forma, é uma cidade anormal”, disse.
Sudão do Sul
A construção de Ramciel, uma cidade no Sudão do Sul para substituir a capital Juba, é debatida desde 2011, quando o país africano declarou independência. Naquele ano, foi aprovado um plano de US$ 10 bilhões para a obra, que ainda não teve início por falta de recursos.
O argumento do governo sul-sudanês é que uma nova capital ajudaria a manter a unidade nacional. Koang Pal Chang, diretor de jornalismo da emissora Eye Radio, concordou com o argumento em entrevista em 2021 ao site Vice.
“O que está acontecendo agora em Juba, se você é do Grande Nilo Superior ou do Grande Bahr al Ghazal [regiões do país], se quiser alugar uma casa de alguém da Equatória [outra região], não consegue fazê-lo”, disse Chang. “Não há confiança entre as pessoas. A capital estar lá [em Juba] significa conflito.”
Em junho deste ano, o Marrocos anunciou que financiará um estudo de viabilidade sobre Ramciel, orçado em US$ 5 milhões. A área onde será construída a nova capital fica a 200 quilômetros de Juba.