A infidelidade é um tema espinhoso em todo o mundo, mas no Egito somente o fato de mencioná-la pode ter efeitos na sua carreira - foi isso que o apresentador de tevê Khairy Ramadan descobriu.
Autoridades egípcias suspenderam seu programa “Momken”, que em árabe significa “É Possível”, por 15 dias após um de seus convidados ter declarado que um terço das mulheres egípcias, especialmente as do Alto Egito, têm tendência a trair seus maridos.
Não foi nenhuma surpresa que o convidado, Tamer el Sobky, tenha tocado no assunto, que é um tabu no país: ele é o administrador de uma página no Facebook chamada “Diário de um homem que sofre”. Ela tem mais de 1 milhão de seguidores e é dedicada a zombar de esposas infiéis.
No programa, Sobky disse, com toda a seriedade, que as mulheres no Alto Egito muitas vezes se unem por casamentos arranjados e acham “chata” a vida de casadas. Ele sugeriu ainda que as mulheres estariam inclinadas à infidelidade devido à “impotência sexual generalizada” entre os egípcios.
O Alto Egito é, sem dúvida, a região mais conservadora do país.
O episódio foi ao ar em dezembro e não chamou muita atenção até um vídeo com o comentário de Sobky circular nas redes sociais. A gravação provocou a ira de muitos egípcios, especialmente do Alto Egito. Sobky recebeu ameaças de morte.
Em um vídeo postado em sua página no Facebook, Sobky disse que suas palavras foram tiradas do contexto pelos administradores das páginas do Facebook do Alto Egito que compartilharam o vídeo. “Seria impossível eu insultar as mulheres do Alto Egito”, Sobky se defendeu. Sua mãe, disse ele, era da região.
Mohamed Amin, que comanda o órgão regulador de mídia do governo responsável por suspender o programa, disse em um comunicado que sua entidade bloqueou o show e passou a investigar Ramadan, o apresentador. Por quê? Porque ele não refutou as declarações de Sobky sobre as mulheres.
Amin também pediu ao Parlamento para criar novas leis de regulamentação da mídia.
Esta não é a primeira vez que os meios de comunicação sofrem sanções por apresentar um tema tabu. A atriz e apresentadora de tevê Entesar foi a julgamento em dezembro passado por “incitar a libertinagem” depois de discutir a necessidade de pornografia. Organizações locais e internacionais expressaram a preocupação com a censura e a liberdade de expressão no Egito.
A Freedom House, um grupo defensor da democracia com sede nos Estados Unidos, classificou o país com o status de imprensa “sem liberdade”. E em um estudo recente, a Associação para a Liberdade de Pensamento e Expressão, um grupo egípcio, registrou 366 casos de violações contra jornalistas e profissionais da mídia na segunda metade de 2015.
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