Os militantes do grupo radical Estado Islâmico (EI) estão saqueando sítios arqueológicos na Síria e no Iraque em escala industrial e vendendo seus tesouros a intermediários para levantar fundos, disse ontem a chefe da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Irina Bokova.
Um quinto dos cerca de 10 mil sítios históricos iraquianos oficiais foram controlados e pilhados pelo EI. Irina disse que não se sabe ao certo o que está acontecendo em “milhares de outras áreas”.
Alguns sítios da Síria foram saqueados de forma tão ostensiva que já não têm mais nenhum valor para historiadores e arqueólogos. A Unesco também está cada vez mais preocupada com a Líbia, disse Irina.
O território do auto-declarado califado do EI, em regiões da Síria e do Iraque, contém alguns dos mais valiosos tesouros arqueológicos do mundo em uma região onde o antigo império assírio construiu suas cidades, o império romano transformou em uma colônia e muçulmanos e cristãos coexistiram durante séculos.
Os militantes, cuja interpretação radical do islamismo vê estátuas, imagens, tumbas e vestígios não-muçulmanos de outras civilizações como idolatria, também publicaram vídeos de si mesmos destruindo artefatos na Síria e no Iraque.
“A destruição deliberada, que estamos vendo atualmente na Síria e no Iraque, alcançou níveis inéditos na história contemporânea”, disse Irina ao Instituto Real de Serviços Unidos (Rusi) em Londres. “Esta destruição deliberada não só continua, mas está acontecendo de forma sistemática. A pilhagem de sítios arqueológicos e museus, particularmente no Iraque, chegou a uma escala industrial de destruição”.
Palmira
O EI destruiu a estátua de um leão, datada do século I a.C, que estava na entrada do Museu de Palmira, na Síria. A destruição foi confirmada pelo diretor-geral das Antiguidades e Museus da Síria, Maamún Abdelkarim.
“É a estátua mais importante que o EI destruiu até o momento na Síria, por suas dimensões e seu valor”, disse Abdelkarim. Segundo ele, a peça, que pesava 15 toneladas e media 3,5 metros de altura, foi destruída há uma semana e ficava no jardim do Museu de Palmira, perto das ruínas romanas. Na antiguidade, a figura do leão estava situada no templo de Al Lat (Atena).
Palmira é um dos seis lugares sírios incluídos na lista do Patrimônio da Humanidade da Unesco. Nos séculos I e II d.C., a cidade foi um dos centros culturais mais importantes do mundo.