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A população de El Salvador vai às urnas neste domingo (4) para escolher o novo presidente, vice-presidente e os deputados da Assembleia Legislativa, o Parlamento unicameral do país. O atual presidente (que está licenciado do cargo) e candidato à reeleição, Nayib Bukele, que concorre pelo partido Novas Ideias, aparece como favorito nas pesquisas para permanecer como chefe de Estado, com mais de 80% das intenções de voto.
Bukele está concorrendo neste pleito eleitoral após El Salvador realizar mudanças polêmicas na lei e no sistema judiciário do país – que ainda conta com uma Constituição que proíbe a reeleição. Para que a entrada do atual presidente na disputa deste ano fosse aceita, a Câmara Constitucional da Suprema Corte de Justiça do país, cujos membros foram nomeados praticamente pela base de Bukele no Parlamento, reinterpretou artigos da Constituição e impôs como uma única condição a renúncia dele do cargo de presidente seis meses antes da corrida eleitoral, medida acatada por Bukele. A oposição e algumas organizações de direitos humanos criticaram a decisão.
Aos 42 anos, Bukele é considerado o presidente mais popular da América Latina, com uma aprovação superior a 90%. Nove em cada dez salvadorenhos aprovam o presidente. Tal popularidade se deve à luta de seu governo contra o crime organizado que praticamente controlava o país centro-americano.
Em 2015, El Salvador era considerado como o país mais violento do mundo, com uma taxa de homicídios em 106,3 para cada 100 mil habitantes. Em 2023, o último ano da primeira gestão Bukele, que começou em 2019, esse índice caiu para 2,4 por cada 100 mil habitantes, a mais baixa em três décadas.
Durante toda a primeira gestão Bukele, El Salvador também registrou cerca de 518 dias sem homicídios, aponta dados oficiais. “Com apenas um deputado a menos do Novas Ideias [no Parlamento], a oposição poderá alcançar seu verdadeiro e único plano: libertar os pandilleros [como são chamados os membros das gangues] e usá-los para voltar ao poder”, disse Bukele em uma mensagem divulgada nas redes sociais ao pedir para que a população “proteja os avanços na segurança” votando nos deputados de seu partido para as vagas em disputa na Assembleia Legislativa.
Conforme apontam as pesquisas, é esperado que o partido de Bukele, que concorre às vagas contra outros 9 partidos, alcance quase uma maioria absoluta no Parlamento salvadorenho, com a conquista de 57 das 60 cadeiras que estão sendo disputadas. El Salvador reduziu recentemente o número de deputados do seu Poder Legislativo de 84 para 60, bem como o número de municípios de 262 para 44. Aliás, a votação para a eleição dos governantes municipais ocorrerá no próximo dia 3 de março.
É esperado que mais de 5 milhões de pessoas compareçam nas urnas neste domingo, já que esse é o número de indivíduos que estão oficialmente registrados para exercer o seu direito ao voto, que é feito em cédulas de papel inseridos em urnas comuns. É necessário ter mais de 18 anos para participar das eleições em El Salvador, onde a votação não é obrigatória e não há sanções para aqueles que não comparecem nos locais de votação. Na última eleição presidencial, apenas 51% da população registrada para votar exerceu seu direito ao voto.
Os que são maiores de 18 anos cuja residência esteja registrada em El Salvador deverão consultar seu centro de votação pelo site do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) do país, órgão responsável por organizar as eleições. As urnas para escolher o novo presidente estarão abertas a partir das 7h da manhã no horário local (10h pelo horário de Brasília) e serão fechadas às 17h [20h pelo horário de Brasília]. Os salvadorenhos que residem fora do país também poderão exercer o direito ao voto.
Para vencer no primeiro turno, um dos candidatos deverá obter 50% dos votos mais um a seu favor. Caso nenhum alcance essa porcentagem, haverá um segundo turno com data ainda a ser definida entre os dois melhores colocados.
Os candidatos presidenciais dos partidos de oposição nestas eleições são Manuel Flores, do partido esquerdista Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN); Joel Sánchez, do partido de direita Aliança Republicana Nacionalista (Arena); Luis Parada, do partido progressista Nosso Tempo (NT); Javier Renderos, do partido de centro-direita Força Solidária (FS); e Marina Murillo, a única mulher na disputa, que concorre pelo partido de direita Fraternidade Patriótica Salvadorenha (FPS).
Os opositores candidatos à presidência, que juntos ainda não conseguem somar metade das intenções de votos de Bukele e contam com pouca simpatia da população, participaram durante as últimas semanas de diversos programas para tentar promover suas propostas eleitorais e denunciar o que chamam de “campanha do medo” que está sendo promovida pelo candidato governista, que preferiu realizar toda sua campanha pelas redes sociais, onde conta com um alto número de seguidores. Os opositores de Bukele apostam suas fichas em propostas econômicas, mas sem ignorar as conquistas do país na segurança pública.
Caso as pesquisas se confirmem e Bukele conquiste o seu segundo mandato como presidente, ele se tornará o primeiro líder salvadorenho na história recente do país a conseguir tal feito, justamente porque a Constituição não permite uma reeleição. O último líder do país que conseguiu permanecer no poder por dois mandatos consecutivos foi o general Maximiliano Hernández Martínez, que governou El Salvador de 1935 até 1944.