No meio de um bando de macacos na floresta Katraniaghat no norte da Índia perambulava uma garota humana nua, brincando com os primatas como se fosse um deles. Ela parecia esquálida, seu cabelo desgrenhado. Mas ela parecia estar em um estado confortável, até a polícia chegar.
Um grupo de madeireiros tinha alertado as autoridades depois de avistar a garota, que se acredita que tenha entre 10 e 12 anos. Quando a polícia se aproximou dela, os macacos cercaram a garota, protegendo-a como um deles, e atacando um policial conforme a garota guinchava para ele, o jornal New Indian Express noticiou essa semana. Depois de resgatar a garota, o policial acelerou para longe em sua viatura enquanto os macacos o perseguiam.
Ela foi logo internada em um hospital público em Bahraich, uma cidade no estado de Uttar Pradesh, no norte da Índia, no qual permaneceu pelos últimos dois meses. Os médicos acreditam que a garota estava sendo criada por macacos há algum tempo, e sua história tem deixado as autoridades intrigadas até o momento, fazendo-os procurar entre relatórios de crianças desparecidas em uma tentativa de identificá-la, de acordo com a agência de notícias Associated Press.
Na imprensa indiana, a garota também suscitou comparações com o personagem Mogli, do escritor Rudyard Kipling, uma criança feral de Seoni, Índia, que é o protagonista de seu romance “O Livro da Selva”.
Com base em seu comportamento, parece que ela pode ter vivido entre os primatas desde o começo da infância, o policial de Bahraich Dinesh Tripathi disse ao New Indian Express. Quando a garota chegou ao hospital, tinha ferimentos por todo o corpo. “Suas unhas e cabelo não estavam bem cuidados, como os de macacos”, disse Tripathi.
A garota magra e fraca parecia que não comia há muitos dias. Apesar de ser capaz de andar com as próprias pernas, às vezes ela repentinamente ficava de quatro.
“A maneira como ela se movia e mesmo seus hábitos alimentares eram como os de um animal”, D. K. Singh, o chefe da superintendência médica do Hospital Distrital de Bahraich disse à Associated Press em uma entrevista registrada em vídeo. “Ela jogava a comida no chão e comia diretamente com sua boca, sem erguê-la com as mãos. Ela se movia usando somente os joelhos e cotovelos.”
Agora, os médicos receberam a tarefa de ensiná-la a como fazer a transição para a vida como uma humana, uma tarefa que inicialmente se mostrou difícil por causa de sua aversão à interação humana.
“Ela se comporta como um primata e grita alto se os médicos tentam tocá-la”, Singh disse ao New Indian Express. Outro médico responsável pelo seu tratamento disse que a garota tem dificuldade de entender qualquer coisa, e faz barulhos e expressões faciais semelhantes à de primatas.
Mas ao longo dos últimos dois meses, a saúde e o comportamento da garota melhoraram significativamente, dizem os médicos. Ela começou a andar normalmente por conta própria e comer com suas próprias mãos. Ela ainda é incapaz de falar, e começou a usar gestos para se comunicar. Ocasionalmente, ela também sorri, de acordo com um porta-voz do hospital, o canal de TV Sky News noticiou.
Outros casos
Diversas histórias de crianças ferais como a jovem garota existem tanto em lendas quanto em casos historicamente documentados. Alguns casos recentes incluem crianças que, como essa garota, foram criadas por primatas. Uma mulher britânica chamada Marina Chapman afirmava ter vivido com macacos entre as idades de quatro e nove anos na selva colombiana e mais tarde escreveu um livro a respeito, embora houvesse quem questionasse a veracidade da história. Um garoto nigeriano portador de deficiência chamado Bello foi encontrado vivendo com chipanzés por 18 meses em 1996 depois de ter sido abandonado por sua família.
O garoto de seis anos de idade John Ssebunya foi encontrado vivendo com macacos-vervet na selva de Uganda em 1991. Acredita-se que ele tenha fugido de casa quando tinha três anos de idade depois de ver seu pai assassinar sua mãe. Ele foi levado para um orfanato e, mais tarde, adotado. Ele aprendeu a falar, se tornou um membro do coral infantil “Pearl of Africa” (pérola da África, em tradução livre) e participou dos Jogos Mundiais Olímpicos Especiais, mais tarde indo viver em uma casa própria.
A história de Ssebunya foi retratada em uma série de documentários, inclusive a série em três partes do canal de TV Animal Planet “Raised Wild” (criado selvagem, em tradução livre), no qual a antropóloga e apresentadora Mary-Ann Ochota investiga os casos de três crianças ferais em Uganda, Ucrânia e Fiji.
Eu seu site na internet, Ochota escreveu a respeito de sua experiência em encontrar essas ex-crianças ferais e conhecer suas histórias. Casos de crianças ferais podem fornecer perspectivas sobre o desenvolvimento humano infantil, atitudes culturais diante de deficiências, e como diferentes sociedades categorizam e explicam relações entre humanos e animais. Mas essas “estranhas crianças ferais são também frequentemente uma fonte de vergonha e segredo em uma família ou comunidade”, ela escreveu.
“Essas não são história de ‘O Livro da Selva’, elas são frequentemente casos angustiantes de negligência e abuso”, escreveu Ochota. “E são todas muito provavelmente o resultado de uma combinação de dependência química, violência doméstica e pobreza. Essas são crianças que escorreram pelas rachaduras, que foram esquecidas, ignoradas ou escondidas.”
Tradução: Pedro de Castro