Cairo - O prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei surge como figura emblemática da revolta contra o presidente egípcio, Hosni Mubarak, mas se apoia numa coalizão díspar que vai da oposição laica à Irmandade Muçulmana, contando também com uma legião de internautas. O ex-diplomata fez uma aparição notável, mas um pouco confusa, na noite de domingo no centro do Cairo, ante centenas de manifestantes.
Para Tewfik Aclimandos, especialista em Egito no Collège de France, ElBaradei "não tem liderança própria, e isto pode ser às vezes seu ponto forte ou seu ponto fraco. Ele não é refém de ninguém, mas também não pode inverter uma relação de poder sozinho".
Ainda, "não possui nenhum compromisso com o regime que integra", acrescentou.
Em meio ao levante popular na Tunísia, o Movimento Juvenil 6 de abril, um fórum de internautas que reivindica há quase três anos reformas democráticas, lançou na semana passada um apelo à manifestações no site de relacionamentos Facebook.
ElBaradei, ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e prêmio Nobel em 2005, construiu laços estreitos com esses jovens militantes, operando como eles na web, a fim de conseguir apoio para a causa. Por não fazer parte de nenhum partido de oposição reconhecido, ele se aproximou também da Irmandade Muçulmana, primeira força de oposição, banida, mas tolerada, que reivindica mudança de regime e garante que respeitará a democracia.
Papel-chave
A irmandade e outros grupos de oposição intimaram neste fim de semana ElBaradei a "negociar com o poder" com a finalidade de encontrar uma saída para a crise no Egito, confirmando o papel-chave deste ex-diplomata, de 68 anos, nas próximas semanas.
"Como na Tunísia, os manifestantes parecem representar um vasto movimento sem liderança, sem cronograma claro e nenhuma solução para a tomada do poder. Até o presente, a contestação se apoia firmemente na classe média", notou Jon Alterman, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington.