La Paz (Reuters) Rico ou pobre, indígena ou branco, de esquerda ou de direita, o boliviano que elegerá um novo presidente no próximo domingo teme que a disputa possa dividir o país. Ainda assim, muitos mantêm a esperança de que um governo de coalizão possa ser construído a partir da urnas. Nas ruas de La Paz, os habitantes temem que a corrida eleitoral entre o líder cocaleiro Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), que tem 34,2% das intenções de voto, e o ex-presidente de centro-direita Jorge Quiroga (da frente Podemos), com 29,9%, possa gerar mais instabilidade.
Os protestos de 2003 pela nacionalização da indústria do gás, que culminaram na renúncia de dois presidentes e em dezenas de mortes, ainda estão na memória dos que moram na capital administrativa do país. Isso vale tanto para a elite, instalada na zona sul, uma área com suas lojas vistosas e carros de luxo circulando, quanto para a empobrecida periferia indígena que fica no alto das montanhas ao redor de La Paz, a mais de 4 mil metros de altitude.
"Há muito ressentimento pelo que aconteceu no passado recente. Isso aqui é ingovernável", diz o administrador de empresas Hugo Mirabal. "Se um candidato ganha, não vai deixar o outro governar."
Perto dali, duas irmãs da etnia aimará que trabalham na rua vendendo doces apostam na mudança para equilibrar as diferenças desse país de 9,4 milhões de habitantes, onde 65% das pessoas vivem na pobreza. "(O MAS) é um partido novo e é preciso dar-lhe uma chance", afirma Monica Titona, 33 anos. "Queremos ver se alguma vez nos colocam num lugar devido juntos, e sem que haja racismo."
Altiplano
A busca por maior inserção e mais direitos pode ser sentida na periferia. O bispo monsenhor Jesús Juárez, que se dedica aos moradores carentes no altiplano, acredita que ambos os lados têm que se unir, para o bem do país. "O altiplano é uma das áreas mais pobres e esquecidas da Bolívia, foi marginalizada por todos os governos", diz ele. "Dos últimos cinco anos para cá, o povo aimará está tomando consciência de sua dignidade. Queremos que seus direitos sejam respeitados."
A região, reduto de Evo Morales, assemelha-se às periferias brasileiras, com um emaranhado de casas de tijolo aparente, ruas de pedra e terra, pequenos comércios e trânsito caótico. Cerca de 1 milhão de pessoas vive no alto das montanhas.
Mesmo com a esperança de que um indígena possa pela primeira vez se tornar presidente da República, muitos moradores vivem um misto de esperança e ceticismo. Isso porque, se Morales não ganhar no primeiro turno, quem decide a eleição é o Parlamento, no fim de janeiro. Ali, porém, a expectativa é de que Quiroga tenha a preferência, principalmente se não ficar muito atrás de Morales.
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