Profundamente divididos e mergulhados em instabilidade política, os egípcios vão hoje e amanhã às urnas para definir quem será o primeiro presidente do país após a renúncia do ex-ditador Hosi Mubarak, há um ano e meio.
O que era para ser o último capítulo da transição para a democracia promete ser o início de uma nova batalha entre as duas principais forças políticas do Egito, a Irmandade Muçulmana e os aliados do antigo regime.
Seja quem for o vencedor, dificilmente será capaz de retomar o raro consenso obtido durante os 18 dias de protestos, no início de 2011, que levaram à queda de Mubarak.
O decisivo segundo turno da eleição põe em confronto representantes de extremos ideológicos: de um lado, Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana; do outro, Ahmed Shafiq, ex-comandante militar e último premiê de Mubarak. Nenhum dos dois incorpora o ideal democrático sonhado pelos jovens que lideraram os protestos na praça Tahrir, epicentro da revolta contra a ditadura Mubarak.
A desilusão com a revolução inacabada já era evidente entre os jovens ativistas, mas a gota dágua veio na quinta-feira, quando a Suprema Corte do país decretou a dissolução do Parlamento.
Formada por juízes nomeados por Mubarak, a corte é acusada pelos opositores do antigo regime de servir aos interesses da junta militar que assumiu o poder após a saída do ex-ditador.
Ontem, a Irmandade Muçulmana alertou que, sem Parlamento e Constituição, o país caminha perigosamente de volta à ditadura militar.
Entretanto, num gesto calculado, o partido acatou a decisão da corte. Evitou convocar protestos e assumiu uma atitude cautelosa, mantendo as apostas numa vitória na eleição presidencial.A chegada da Irmandade Muçulmana à Presidência do Egito seria um triunfo histórico para o movimento nascido no país em 1928 e considerado o pai do islã político.