
Tegucigalpa - A eleição de hoje em Honduras pode conseguir o que o regime golpista tenta fazer há cinco meses: acabar com a carreira política do presidente esquerdista deposto José Manuel Zelaya e substituí-lo por um líder moderado que responda à elite local.
Washington, que prometeu não reconhecer as eleições a menos que Zelaya fosse restaurado ao cargo, agora parece ter decidido que tem poucas opções e fará exatamente isso.
"No final, o golpe ganhou", diz Heather Beckamn, analista política da América Latina para o Eurasia Group, em Nova York.
Milhões de hondurenhos pobres depositavam suas esperanças nas políticas esquerdistas de Zelaya numa nação dominada por uma elite endinheirada. Mas agora não têm candidato presidencial que, ao menos, diga representá-los: o único candidato que apoiava Zelaya, César Ham, se retirou da disputa no mês passado sob a alegação de que sua participação daria respaldo ao golpe.
Os principais candidatos pertencem aos dois partidos que votaram ostensivamente no Congresso em apoio ao golpe contra Zelaya um deles inclusive ajudou Zelaya a ser eleito antes de se voltar contra o mandatário.
Zelaya, que foi deportado por soldados em 28 de junho, regressou clandestinamente a Honduras três meses depois e desde então permanece abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Seu mandato termina em janeiro e a Constituição local proíbe a reeleição.
Inicialmente, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, denunciou o golpe, o primeiro na América Central em quase duas décadas, e disse que os EUA não reconheceriam nenhuma eleição que fosse feita sob um governo instalado pelos golpistas.
Zelaya escreveu a Obama perguntando ao mandatário dos EUA por que Washington mudou de posição, e instou os líderes da América Latina "a não adotarem posições ambíguas ou imprecisas semelhantes à demonstrada pelos Estados Unidos".
Muitos governos de tendência esquerdista da América Latina admitem que a eleição de hoje equivale a uma legitimação ao golpe em Honduras. Entre eles, o Brasil.