A eleição de Sérgio Mattarella como presidente da Itália, nome escolhido unilateralmente pelo primeiro-ministro, Matteo Renzi, provocou uma forte tensão entre os partidos da direita, promovendo uma série de fraturas internas.
Um dia após o pleito, enquanto Mattarella ia à missa e passeava tranquilamente pelas ruas de Roma ontem, sem dar declarações aos jornalistas, as siglas de centro-direita estavam nervosas por terem escolhido mal suas opções na votação do novo chefe do Estado.
"Amém", estampa hoje a manchete o jornal conservador Libero, que afirma que a centro-direita cometeu um suicídio pólítico: "os líderes Silvio Berlusconi e Angelino Alfano caíram na armadilha de Renzi sem ter um plano B, quebrando a cara e destroçando seus partidos".
Na última quinta-feira, Renzi revelava que seu candidato à presidência seria Mattarella, juiz do Tribunal Constitucional e ex-integrante do Partido Democracia Cristã, surpreendendo tanto seus aliados do Novo Centro-Direita (NCD) como Berlusconi, que esperavam fechar um acordo para a escolha do nome.
O líder do NCD e ministro do Interior, Angelino Alfano, aceitou finalmente a proposta de Renzi, mas seu partido se dividiu.
Vários entregaram cargos como forma de protesto por causa da decisão, entre eles o porta-voz da legenda no Senado, Maurizio Sacconi. Barbara Saltamartini e Maurizio Bernando anunciaram, inclusive, a saída do grupo.
A Forza Itália, de Berlusconi, também se encontra imersa no caos, afirmou ontem a imprensa italiana. O ex-primeiro-ministro determinou que os parlamentares do partido votassem em branco, mas cerca de 30 deles apoiaram Mattarella no pleito.
"Foi um complô. Agora é preciso que voltemos a trocar toda a diretoria executiva do Forza Itália", explicou um dos líderes do partido e europarlamentar, Raffaele Fitto.
"Temos de estabelecer uma nova organização, que caracterize de forma clara nossa linha política de alternativa à esquerda. Foram cometidos erros incríveis", acrescentou Fitto em declarações aos meios de comunicação italianos.
Fitto é um dos principais críticos do "Pacto de Nazareno", firmado entre Berlusconi e Renzi para permitir a realização de reformas constitucionais e a aprovação de um novo sistema eleitoral no país.
A eleição de Mattarella pode encerrar esse acordo, que até agora tinha permitido o governo levar adiante, sem muitos problemas, várias votações de projetos de lei no parlamento. Renzi, no entanto, garantiu que o pacto segue em vigor.
"A polêmica com o Forza Itália é sobre a escolha [de Mattarella], mas o fundamental é que elegemos uma pessoa que todos consideram como um cavalheiro", completou o Renzi ao jornal Il Messaggero.
A última palavra terá Berlusconi, que primeiro precisará acalmar seu partido internamente. Por enquanto, o ex-primeiro-ministro não se pronunciou e está refugiado em sua mansão de Arcore, nos arredores de Milão.