Uma pessoa morreu e outra ficou ferida neste sábado (7) na Líbia, quando um homem que ainda não foi identificado abriu fogo nas proximidades de um colégio eleitoral no leste do país, na primeira democrática em 60 anos no país.
O ataque aconteceu na cidade de Ajdabiya, palco de numerosos incidentes durante os comícios para eleger a primeira Assembleia Nacional do país, após décadas de ditadura de Muammar Kadhafi, deposto e assassinado em 2011.
Além disso, atos de sabotagem impediram a abertura de 101 locais de votação. De acordo com o presidente da comissão eleitoral líbia, Nuri al-Abbar, os problemas ocorreram principalmente no leste do país. "Foram abertos 94% dos postos de votação", disse o presidente da comissão, ressaltando que a votação ocorria normalmente em 1.453 dos 1.554 centros de votação.
"Alguns dos postos não abriram. Em virtude de problemas de segurança, o material logístico não conseguiu chegar até eles", disse. "Estamos, agora, lidando com isso, enviando material para os postos para que eles comecem o processo de votação", afirmou o Al-Abbar, em declarações feitas cinco horas após o começo do processo.
"O comparecimento é excelente, a despeito das temperaturas altas", disse Abbar, com base nos dados preliminares sobre a presença nos postos. Ele disse ainda que o processo de votação no exterior transcorria tranquilamente.
Os colégios eleitorais começaram a fechar suas portas às 20 horas (15 horas de Brasília) na capital Trípoli e em Benghazi (leste).
Clima
O clima em todo o país foi estranho durante este sábado. Nas primeiras horas da histórica eleição, a alegria nas ruas de Trípoli contrastava com a incerteza dos eleitores no leste, onde várias cidades tiveram colégios eleitorais atacados, entre elas Benghazi. Um ano e meio após o começo da revolta contra Kadafi, os líbios têm as milícias e a falta de autoridade do Conselho Nacional de Transição (CNT) como principais impasses para a transição democrática.
Na capital líbia, vários carros percorreram as ruas com bandeiras e buzinas foram tocadas para comemorar o pleito que vai eleger a Assembleia Constituinte do pais, também chamado de Conselho Nacional Geral, que deverá substituir o CNT. Logo pela manhã, as mesquitas começaram a gritar em seus alto falantes "Deus é grande" para lembrar os moradores a votar.
Enquanto isso, no leste do país, autoridades chegaram a suspender as votações nas cidades de Ajdabiya e Brega depois de sucessivos ataques, com queima e roubo de cédulas. Colégios eleitorais também foram atacados em Benghazi, segunda maior cidade líbia e berço da revolução contra Kadafi, mas não houve reação da polícia, contou a BBC. Muitos moradores acreditam que a cidade merecia mais vagas na Assembleia, que contará com 200 assentos, por ter começado a rebelião no ano passado.
Segundo uma fonte de segurança de Benghazi, grupos de líbios que defendem o federalismo - alegando que o leste do país está sub-representado na Assembleia - e alguns radicais islâmicos invadiram vários colégios eleitorais logo após a abertura das urnas, queimando e roubando cédulas. Em um deles, houve troca de tiros. Na cidade, a participação nas primeiras horas da votação é tímida, muitos temem ataques.
Em Ajdabiya, fontes garantem que a votação foi retomada em toda cidade, com exceção de duas escolas. Segundo a TV estatal, moradores de al-Wahat, no sudeste, ainda esperam a chegada das urnas para começar a votação. Em Torka, a 70 quilômetros de Benghazi, colégios eleitorais também precisaram se fechado temporariamente devido a sucessivos atentados.
A eleição
Quase 3 milhões de líbios escolhem neste sábado entre 4 mil candidatos os 200 membros da Assembleia que vai redigir a nova Constituição do país. Oitenta dos deputados serão eleitos em listas de partidos políticos e 120 serão candidatos independentes. Cem assentos foram reservados para a região ocidental, 60 para o leste e 40 para o sul.
Esta distribuição gerou protestos no leste do país, berço da revolução e historicamente receosa do poder central de Trípoli. Na sexta-feira (6), grupos armados na região interromperam metade das exportações de petróleo para pressionar por mais autonomia. Um helicóptero carregando material de votação fez um pouso de emergência perto de Benghazi depois de ser atingido num ataque que matou uma pessoa a bordo.