As eleições gerais da Nicarágua, nas quais se espera que o sandinista Daniel Ortega, no poder desde 2007, seja reeleito, foram marcadas neste domingo (7) por uma baixa participação porque, para muitos, o resultado é pré-determinado.
O caminho para o sexto mandato de Ortega, o quarto consecutivo, foi pavimentado quando a Polícia Nacional, liderada pelo sogro do atual presidente, prendeu sete pré-candidatos de oposição que estavam surgindo como seus principais adversários e que poderiam servir como contrapeso. Dois outros dissidentes foram para o exílio alegando preocupações com a segurança.
Sem competição eleitoral, o dia se concentrou em duas outras questões: o nível de participação e a legitimidade de Ortega. Segundo o chefe de governo, o que está em jogo é a paz contra o terrorismo. Este último, segundo ele, é impulsionado pela oposição excluída das eleições.
Ortega ataca oposição
Depois de votar ao lado de sua esposa, a vice-presidente Rosario Murillo, que também está buscando a reeleição, Ortega se pronunciou através de uma mensagem em uma rede de televisão e rádio. Ele atacou adversários presos e exilados, bem como os protestos contra seu governo, iniciados em abril de 2018.
"Estamos realizando estas eleições, e estamos certos de que nesta batalha, que é uma batalha histórica, temos que decidir entre terrorismo, confronto, guerra ou paz", declarou Ortega na Casa de los Pueblos, sede do governo do país centro-americano.
O presidente se pronunciou na metade do dia da eleição, que passou calmamente e com uma baixa participação dos eleitores, em contraste com as previsões da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). A legenda havia previsto uma votação massiva.
A oposição, excluída de participar das eleições, os nicaraguenses no exílio e a Associação Mães de Abril, que reúne os familiares das vítimas do surto social de 2018, lançaram campanhas aconselhando contra o voto com o argumento de que fazê-lo legitimaria a "ditadura de Ortega Murillo".
Opositores usaram hashtags nas redes sociais para incitar os nicaraguenses a não sair de suas casas, a manter suas portas trancadas e as ruas vazias. Eles consideram que "não há ninguém em quem votar".
Exilados repudiam "circo"
Milhares de nicaraguenses no exílio na Costa Rica protestaram nas principais ruas da capital contra o que chamaram de fraude eleitoral e circo orquestrado pelo presidente Ortega.
Como parte de um dia de manifestações, vários grupos de oposição nicaraguenses se uniram ao redor do mundo, em cidades como Madri, Miami, Cidade do Panamá e Washington, para repudiar as eleições e exigir que a comunidade internacional não reconheça os resultados eleitorais na Nicarágua. Em sua visão, o processo é uma farsa que só busca reeleger Ortega.
A Human Rights Watch (HRW) descreveu as eleições na Nicarágua como uma farsa. Segundo o diretor executivo para as Américas, José Miguel Vivanco, Ortega assumirá seu quarto mandato consecutivo “através da força da repressão, censura e medo".
Legitimidade em jogo
"Hoje o mundo inteiro testemunhará a coroação da ditadura na Nicarágua. A farsa eleitoral está em andamento: 'eleições' sem outros candidatos além dos do regime; 'eleições' com toda a oposição na prisão e com a oposição nas ruas", escreveu o ex-presidente costarriquenho Luis Guillermo Solís em sua conta no Twitter.
Para Solís, o processo eleitoral nicaraguense "ridiculariza os métodos e instrumentos da democracia, manipulando-os". "Dessa forma, o regime desafia sorrateiramente a comunidade internacional, sentindo-se protegido por poucas nações que compartilham seu desprezo pela liberdade e pelos direitos humanos", completou.
O líder da oposição na Venezuela, Juan Guaidó, considerou que Ortega procura se perpetuar no poder com eleições "sob medida".
Os Estados Unidos, o Canadá e a União Europeia alertaram sobre sanções após as eleições nicaraguenses, em meio a perguntas sobre sua legitimidade.
O chanceler nicaraguense, Denis Moncada, no entanto, declarou que o governo Ortega não teme que a comunidade internacional ignore os resultados das eleições e assegurou que não se deixará intimidar.
Se atingir seu objetivo, Ortega, que completa 76 anos na próxima quinta-feira, será chefe de governo pelo sexto mandato. Ele chefiou uma junta governamental de 1979 a 1984, presidiu o país pela primeira vez de 1985 a 1990 e retornou ao poder em 2007.