Os marroquinos votaram em uma eleição parlamentar nesta sexta-feira que pode criar o governo mais representativo da história do Marrocos depois que o rei Mohammed cedeu alguns poderes para evitar a repetição no país dos distúrbios da Primavera Árabe.A eleição será um indicador da capacidade das monarquias árabes para realizar reformas graduais que aplaquem o desejo popular de maior democracia, sem as revoltas como as ocorridas na Tunísia, Líbia, Egito e Síria este ano.
Cerca de 13,6 milhões de marroquinos se registraram para votar na eleição desta sexta-feira, a nona no país norte-africano desde que se tornou independente da França em 1956.
"Eu vou votar, talvez mais tarde, antes que os locais de votação fechem", disse o engraxate Mohamed enquanto esperava fregueses em uma movimentada avenida de Rabat.
"Na noite passada um amigo me explicou o que significavam as eleições com todos os problemas nos países árabes: eu tenho que votar para que possamos acabar com a miséria na qual vivemos. É tudo o que temos por enquanto: paciência e voto", disse.
Ao contrário de eleições anteriores, em que os resultados eram evidentes com antecedência, a última votação foi uma disputa acirrada entre um partido islamista da oposição e uma nova coalizão de liberais com laços próximos ao palácio real.
Sob as reformas constitucionais apoiadas pelo rei Mohammed no início deste ano, o novo governo que surgirá das urnas terá poderes inéditos, embora o rei mantenha a palavra final sobre questões de defesa, segurança e religião.
Seja qual for o bloco que surgir com mais cadeiras no parlamento, provavelmente será incapaz de formar um governo por conta própria. Terá que buscar uma aliança, ou mesmo uma "grande coalizão" entre islamistas e o bloco liberal.
Isso preocupa os economistas, que querem ver um governo coeso capaz de diminuir o déficit orçamentário, reduzir o índice de desemprego que está acima dos 30% e atender as necessidades dos 8,5 milhões de marroquinos que estão abaixo da linha da pobreza.
O rei vai escolher o próximo primeiro-ministro do partido que obtiver a maior parte dos votos. Já está claro que Abbas Al Fassi, que detém o cargo agora, será substituído porque seu partido Istiqlal é muito impopular.
A mudança rumo a uma maior democracia falhará se a eleição for marcada pelo tipo de compra de votos comum no passado, e se houver sinais de que autoridades do palácio estivessem tentando interferir no novo governo.
O monarca marroquino disse querer eleições "livres, justas e competitivas", mas há sinais de que persistem práticas eleitorais obscuras do passado.
Desde que sucedeu seu pai no trono, em 1999, o rei Mohammed foi saudado internacionalmente por melhorar a situação dos direitos humanos, embora o ímpeto reformista de seus primeiros anos no governo tenha arrefecido ultimamente.
Quando os manifestantes, inspirados pela Primavera Árabe, foram às ruas no começo deste ano, o rei Mohammed respondeu revigorando o processo de reformas e oferecendo emendas constitucionais que tiraram parte da força do movimento de protestos.
Mas há uma minoria que diz que suas reformas não são o suficiente. Milhares de pessoas se uniram a protestos em várias cidades no final de semana passado para apoiar pedidos de boicote das eleições.