O presidente do Equador, Rafael Correa, declarou vitória na eleição de domingo para a Assembléia Constituinte. Segundo pesquisas de boca-de-urna, ele conquistou forte maioria. Com isso, Correa deve ter força política suficiente para pôr em prática as medidas que defende: dissolver o Congresso e implementar reformas para acabar com a influência de partido políticos tradicionais, amplamente responsabilizados por anos de instabilidade no país.
- Ganhamos a mãe de todas as batalhas - disse Correa a seguidores que cantavam e dançavam ritmos típicos num palco, ao lado do presidente, em frente à sede de seu partido, em Quito.
Depois do venezuelano Hugo Chávez e do boliviano Evo Morales, o presidente equatoriano é mais um líder de esquerda sul-americano a usar uma Constituinte para superar resistências parlamentares a seus projetos e aprovar reformas que limitam a influência das elites políticas.
- A pátria já é de todos, a vitória já é de todos, sente-se a espada de (Simón) Bolívar percorrer a América Latina - disse Correa do alto de um palco instalado para as comemorações.
Os resultados oficiais ainda devem demorar a ser divulgados, mas uma pesquisa de boca-de-urna ligada ao governo e uma apuração paralela (por amostragem) mostram que a Aliança País, de Correa, conseguirá a maioria absoluta entre os 130 constituintes. Correa anteviu a eleição de 80 deputados, e alguns ministros falaram em pelo menos 70.
Temor de maior controle estatal sobre a economia
Correa, economista formado nos EUA, tem grande popularidade, especialmente devido a suas investidas contra os políticos profissionais, que ele compara a mafiosos. Adversários temem que ele acumule poderes e afaste o país andino das políticas de livre-mercado, a exemplo do que fez Chávez na Venezuela.
Os investidores vêem com receio suas promessas de renegociar parte da dívida externa, de US$ 10 bilhões, além dos contratos com empresas estrangeiras para a produção de petróleo e minérios. O principal representante de Correa na Constituinte será seu ex-ministro de Energia Alberto Acosta, partidário de maior controle estatal sobre os recursos naturais e energéticos.
"Com a Aliança País no banco do motorista, a nova legislatura provavelmente validará uma maior intervenção do governo em setores críticos da economia", escreveu no domingo o analista Alberto Ramos, da Goldman Sachs, em nota a seus clientes.
Correa, no cargo desde janeiro, busca reduzir a influência dos partidos tradicionais, aos quais muitos atribuem a instabilidade que levou à queda de três presidentes em uma década. Ele diz que sua bancada vai defender a dissolução do Congresso, a ser substituído por um comitê legislativo durante os debates da Constituinte. Mas o presidente garantiu que vai consultar outros partidos, e negou que a medida tenha caráter autoritário.
A Constituinte vai discutir um anteprojeto preparado por acadêmicos. A versão final terá de ser aprovada em referendo após pelo menos seis meses.
Entre os principais adversários de Correa estão um irmão do ex-presidente Lucio Gutierrez, muito popular entre os pobres, apesar de ter sido deposto por uma rebelião em 2005, e o magnata da banana Álvaro Noboa, derrotado por Correa no segundo turno da eleição presidencial de 2006.
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