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Maduro apostou no estilo populista, sempre citando Chávez; Capriles sustentou sua campanha nas críticas ao governo | Carlos Garcia Rawlins/Reuters
Maduro apostou no estilo populista, sempre citando Chávez; Capriles sustentou sua campanha nas críticas ao governo| Foto: Carlos Garcia Rawlins/Reuters

Dez dias

Apesar de curta, a campanha para a presidência da Venezuela contou com alguns episódios marcantes.

Vídeo de Lula

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não escondeu seu posicionamento. Em um vídeo de dois minutos, o petista declarou seu apoio à candidatura de Nicolás Maduro, afirmando que o presidente interino "se destacou na luta para construção de uma América Latina mais democrática e solidária". Ao final do vídeo, Lula sentenciou: "Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou".

O passarinho

A figura de Hugo Chávez foi presença constante na campanha de Maduro. Sua participação mais marcante foi quando Maduro disse que o ex-presidente apareceu para ele na forma de um passarinho. "Eu o senti aqui como uma bênção, nos dizendo: ‘Hoje começa a batalha. Rumo à vitória. Vocês têm nossa bênçãos’. Eu o senti da minha alma", afirmou.

Salário mínimo

A apenas cinco dias do pleito, Maduro fez um anúncio com impacto significativo: o aumento no salário mínimo em até 45%. O reajuste seria concedido em três partes, a primeira em maio e a última em setembro. Em resposta, Henrique Capriles garantiu que, se eleito, aumentará o salário em 40% de uma só vez e não de forma parcelada.

Troca de acusações

Mesmo com a campanha curta, Maduro e Capriles trocaram acusações. O governo venezuelano apresentou áudios que comprovariam uma conspiração de mercenários para tumultuar o ambiente político. Já o oposicionista declarou que apoiadores do governo estariam induzindo setores da população a votar pelo chavismo e colocou em xeque a segurança da votação.

  • Comícios levaram multidões às ruas, tanto os de Maduro como os de Capriles, com populares chegando a passar mal

Após a campanha eleitoral mais curta de sua história, os venezuelanos vão às urnas hoje para escolher aquele que terá o desafio de suplantar 14 anos de uma liderança tão controversa quanto carismática. Com a morte de Hugo Chávez, no dia 5 de março, a missão de sucedê-lo está entre dois políticos: o presidente interino Nicolás Maduro, que pretende dar continuidade ao populismo chavista, e o jovem opositor Henrique Capriles Radonski.

Além de Maduro e Ca­priles, outros cinco candidatos concorrem à eleição presidencial deste domingo: Eusebio Méndez, Reina Sequera, María Bolívar, Fre­dy Tabarquino e Julio Mora. A disputa real, no entanto, está centrada entre Maduro e Capriles, que em apenas dez dias protagonizaram uma campanha acirrada, com discursos inflamados, declarações polêmicas, denúncias de ambos os lados e poucas propostas. Nas pesquisas divulgadas durante os últimos dias Maduro aparecia com dez pontos de vantagem sobre o adversário, que mesmo assim, se declarou confiante na vitória.

Para Eduardo Saldanha, professor de Relações Inter­nacionais da FAE, assumir o governo exigirá um grande esforço, independente de quem venha a ganhar. No caso de Maduro, sua tarefa será mostrar que não é o líder carismático que era Hugo Chávez, como vem tentando passar aos eleitores. Já Capriles, se eleito sofrerá com a oposição do grande número de chavistas. "Os dois terão de viver à sombra de Chávez, e de uma maneira bastante negativa, lutando contra os resquícios do seu governo".

Economia

Além da ausência de Chávez, a campanha atual tem como diferencial a situação econômica da Venezuela. Em artigo publicado na semana passada, o presidente do Instituto Datanalisis, Luis Vicente León, atenta para os problemas que aguardam o novo mandatário. "Na campanha de outubro passado [vencida por Chávez] estávamos em uma bonança, mas atualmente estamos em uma situação crítica que é impossível esconder. Nem mesmo entregando todas as divisas hoje mesmo o governo evitaria os baques no dia a dia dos venezuelanos", aponta.

Larissa Ramina, doutora em Direito Internacional e professora da Unibrasil, concorda que abrir novos horizontes para a economia do país é um dos principais desafios do próximo presidente. "Entre esses desafios está equilibrar a equação importações-exportações, pois atualmente a Venezuela é um grande importador", avalia. Ela também cita como metas para o vencedor das eleições de hoje persistir no objetivo da igualdade social e desviar o foco da política extrativista em prol de maior preservação dos direitos indígenas.

VizinhoGoverno brasileiro vai acompanhar eleição na expectativa de parcerias

A Venezuela é apontada como um "parceiro fundamental no processo de integração da América Latina", conforme as palavras do ministro das Relações Anteriores do Brasil, Antônio Patriota. Por causa disso, o governo brasileiro deve acompanhar de perto o resultado da eleição no país vizinho, cujo resultado vai dar uma ideia de como os dois países deverão se relacionar, especialmente no campo econômico.

A professora Larissa Ramina lembra que o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez se manteve próximo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da atual mandatária, Dilma Rousseff, além de ter inserido a Venezuela na América do Sul. "O candidato da oposição [Capriles] já manifestou hostilidade em relação ao Mercosul no passado, talvez seja esta uma das mais relevantes questões para o Brasil", aponta.

Não muda

Na opinião de Eduardo Saldanha, independentemente de qual seja o resultado, as eleição venezuelana não deverão surtir efeitos imediatos na relação com o Brasil. "O governo brasileiro foi bastante consciente, não condenando a gestão Chávez, nem manifestando apoio explícito. Por isso acho que não muda muita coisa em princípio", avalia.

CampanhaCandidatos abusaram de ataques e deixaram as propostas de lado

Com o tempo exíguo de campanha, os dois principais candidatos à presidência da Venezuela usaram mais dos ataques aos adversários e frases de efeito do que propostas para governar o país. Em eventos que arrastaram multidões para as ruas, os concorrentes mostraram estilos diferentes. Enquanto o governista Nicolás Maduro colou sua imagem no ex-presidente Hugo Chávez e tentou implantar o mesmo estilo populista, o jovem Henrique Capriles apostou pesado nas críticas à gestão chavista.

Currículo

Ex-motorista de ônibus, Maduro tem 50 anos e está na presidência desde a morte de Chávez no início de março. Sua campanha teve um tom alegórico: muitas vezes o candidato chegava aos comícios dirigindo um ônibus e era recebido com uma chuva de papel picado. Além de citar o "comandante" constantemente em seus discursos, encerrava seus eventos com o vídeo do último pronunciamento de Chávez.

Capriles tem 40 anos e disputou a última eleição presidencial em outubro do ano passado. Perdeu para Hugo Chávez, mas foi a primeira derrota nas urnas em uma carreira na qual já foi deputado, prefeito do município de Baruta e governador de Miranda. Com origens na classe média, se apresentou como o candidato da novidade, prometendo resolver os problemas de insegurança e desabastecimento.

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