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Keiko Fujimori acena depois de votar no Peru | REUTERS/Enrique Castro-Mendivil
Keiko Fujimori acena depois de votar no Peru| Foto: REUTERS/Enrique Castro-Mendivil

Um ex-comandante militar de esquerda enfrenta uma candidata de direita, filha de um ex-presidente preso em uma eleição presidencial acirrada neste domingo (5), em uma corrida para liderar uma jovem democracia e uma economia em rápida expansão.

Pesquisas de opinião mostram uma eleição extremamente competitiva entre Ollanta Humala, um militar de carreira que moderou a sua posição anticapitalista, desde que perdeu, por pouco, a eleição de 2006, e a congressista Keiko Fujimori, candidata de 36 anos, preferida dos líderes empresariais e investidores.

Pesquisas mais recentes apontam Humala com uma pequena vantagem sobre Fujimori, mas mostram os dois estatisticamente empatados, após a contabilização das margens de erro. Mas uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos no sábado mostrou Humala na frente por 3,8 pontos percentuais.

A disputa ficou mais acirrada depois que Humala atacou Fujimori por ter trabalhado durante o governo do seu pai, Alberto Fujimori, que governou o Peru na década de 90 e fechou o Congresso para consolidar o poder, em 1992.

A jovem Fujimori contra-atacou alertando que Humala pode desmantelar as reformas de livre-mercado, implantadas pela primeira vez por seu pai e que ajudaram a estimular um crescimento econômico sem precedentes na última década, depois de anos de caos e guerrilhas.

Para convencer os eleitores indecisos em uma campanha de segundo turno que polarizou o Peru, Fujimori pediu desculpas pelos excessos de seu pai, enquanto Humala prometeu gerir a economia com prudência e respeito aos investidores estrangeiros que planejam aplicar 40 bilhões de dólares em projetos de mineração e petróleo, ao longo das próximas décadas.

Os investidores estão cautelosos em relação a Humala, o câmbio e o mercado de ações do Peru, enfraquecido sempre que as pesquisas de opinião mostraram que ele está ganhando terreno. O mercado de ações do Peru perdeu 14 bilhões de dólares nas semanas em que Humala venceu o primeiro turno, com transações cheias de altos e baixos antes de se recuperar.

A campanha de Fujimori insinuou que a equipe de Humala vai protestar e se negar a aceitar a derrota, enquanto os assessores de Humala alertaram sobre a possibilidade de fraude --lembrando aos eleitores que o Fujimori mais velho foi acusado de manipular a votação de 2000, para conquistar um terceiro mandato.

O Goldman Sachs aconselhou seus clientes a esperar a recontagem dos votos, o que causaria ainda mais instabilidade ao mercado.

"Democracia, ditadura não"

"Temos que lembrar do passado na hora de votar", disse Humala à Reuters, enquanto corria pelo seu bairro ao sul de Lima, pouco antes da abertura das urnas, referindo-se ao que ele chama de "ditadura" do Fujimori mais velho.

"Temos que nos dar uma chance."

Embora os dois candidatos venham de lados opostos do espectro político, os críticos dizem que ambos possuem traços autoritários.

Os dois prometeram melhorar os programas sociais e dizem que o crescimento rápido da última década não conseguiu tirar da pobreza um terço da população peruana.

Humala, que liderou uma revolta mal sucedida em 2000 para exigir a renuncia de Fujimori, chegou ao segundo turno depois de cortejar principalmente os peruanos das áreas rurais, que há tempos se sentiam ignorados pelas elites da capital.

Fujimori, popular entre as mulheres e os pobres da região urbana, chegou por pouco ao segundo turno, quando três candidatos mais moderados dividiram os votos dos eleitores moderados.

Humala, de 48 anos, começou a usar gravatas, a levar consigo um rosário e a imitar o estilo conciliador dos líderes de centro-esquerda como o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele promete respeitar os diversos pactos de livre-comércio do Peru e a independência do banco central e prometeu administrar um orçamento equilibrado, mas ainda defende uma agenda mais estadista que aumentaria o controle sobre os recursos naturais de um dos maiores exportadores de recursos minerais do mundo.

"Ollanta vai acabar com a corrupção", disse Delma Barranza, uma varredora de ruas, enquanto se preparava para votar. "Keiko já foi a primeira dama e congressista e não fez nada. Precisamos de uma mudança."

Os críticos dizem que Humala não abandonou a ideologia linha dura, que aprendeu com o seu pai, um radical de destaque. Eles alertam que ele estatizaria as empresas privadas e mudaria a constituição para permitir que ele concorra a mandatos sucessivos, como o seu mentor político, o socialista venezuelano Hugo Chávez.

Esses alertas assustaram alguns peruanos, que estão aproveitando a riqueza crescente e continuam assombrados pela hiperinflação desestabilizadora e pelas revoltas dos anos 80 e 90.

O Fujimori mais velho é conhecido por ter estabilizado a economia e por derrotar os rebeldes Maoístas. Mas o uso de esquadrões da morte contra esquerdistas suspeitos e a corrupção generalizada fizeram com que ele fosse condenado à prisão por 25 anos, depois que ele retornou ao Peru, em 2007, após a sua fuga para o exílio no Japão em 2000.

Na sua tentativa de voltar ao palácio presidencial, que ela chama de casa, e tornar-se uma das mais jovens líderes mundiais do sexo feminino, Fujimori tem procurado apresentar-se como uma mãe independente e trabalhadora e que não depende dos conselhos do seu pai.

"É fundamental para nós, mantermos claras as regras para os investidores," disse Fujimori antes do segundo turno. "(Humala) é um bom soldado de Hugo Chávez."

Os peruanos que moram no exterior podem decidir a eleição. Eles representam cerca de dois por cento dos eleitores peruanos e as pesquisas dizem eles tenderiam a ser a favor de Fujimori.

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