O primeiro-ministro britânico Boris Johnson finalmente ganhou nesta terça-feira (29) o apoio dos legisladores para antecipar as eleições para 12 de dezembro, que serão dominadas por Brexit, Brexit e mais Brexit.
O parlamento será dissolvido na próxima semana, e os partidos se empenharão em suas campanhas de cinco semanas.
Esta será a primeira eleição do Reino Unido no mês frio e escuro de dezembro desde 1923 - época do ano em que os britânicos preferem as festas de Natal às campanhas políticas.
Os eleitores ouvirão algumas opções difíceis sobre o Brexit, juntamente com as habituais promessas entusiásticas, cenários assustadores, deturpações e números nebulosos. Os britânicos vão reforçar o desejo de deixar a União Europeia? Ou eles mudarão de ideia e decidirão permanecer no maior clube comercial do planeta?
O Partido Conservador, sob o comando de Johnson, concorrerá como "100% Brexit", sob a bandeira "Que se cumpra o Brexit" (Get Brexit done).
O primeiro-ministro planeja fazer campanha contra o establishment: a oposição desonesta, juristas que passam dos limites e outras elites que, segundo ele, conspiraram para negar ao país sua liberdade da União Europeia. Não importa que Johnson seja um descendente de privilégios - o filho de um diplomata, formado em Eton e Oxford, que se tornou uma celebridade domo jornalista e um político com uma casa de campo.
"Há apenas uma maneira de realizar o Brexit diante desse implacável obstrucionismo parlamentar, dessa interminável e voluntariosa recusa em cumprir o mandato do povo", disse Johnson na terça-feira.
Ele espera que uma eleição permita que seu partido recupere sua maioria parlamentar e lhe dê um mandato para fazer o Brexit do seu jeito, de acordo com os termos do acordo de retirada que ele negociou com os líderes da UE.
O novo Partido do Brexit, liderado pelo apresentador de talk show Nigel Farage, será 200% para o Brexit, com o argumento: Por que continuar falando com os europeus? Vamos simplesmente embora.
Os Democratas Liberais farão campanha para parar o Brexit. E para que seja feito um segundo referendo.
O Partido Nacional Escocês pressionará para permanecer na União Europeia - e, a propósito, promover a independência escocesa.
E então há o Partido Trabalhista de Jeremy Corbyn, agora a principal oposição.
Os trabalhistas disseram que buscarão uma agenda socialista do século 21, com o objetivo de retomar o controle das empresas de serviços públicos e de transportes, buscar um Novo Acordo Verde radical para conter as mudanças climáticas e colocar os trabalhadores em conselhos corporativos. O partido fará campanha sob a bandeira: "Para os muitos, não para os poucos".
"Vamos lançar a campanha mais ambiciosa e radical por mudanças reais", prometeu Corbyn na terça-feira.
Mas o Partido Trabalhista adotou uma posição estranha sobre o Brexit. O plano oficial do partido é: Vamos vencer a eleição; então vamos negociar com a Europa um "Brexit dos Trabalhistas" muito suave; depois vamos ter uma conferência do Partido Trabalhista para decidir se o partido apoia o acordo; e finalmente vamos fazer um segundo referendo para ver se as pessoas o apoiam.
Johnson disse que Corbyn quer adiar o Brexit "para sempre".
A parlamentar trabalhista Jess Phillips disse que, embora os eleitores votem com o Brexit em suas mentes, o resultado estará aberto à interpretação e manipulação. "Será um referendo sobre o Brexit, gostemos ou não", disse Phillips ao Parlamento.
Pesquisas de opinião recentes colocaram o Partido Conservador dez pontos acima do Partido Trabalhista. Mas os institutos de pesquisa alertam que ainda é cedo. Theresa May, a antecessora de Johnson, tinha uma vantagem de 20 pontos sobre o Partido Trabalhista quando convocou uma eleição em abril de 2017. Mas o Partido Trabalhista cortou essa liderança ao longo da campanha, custando a May a maioria parlamentar.
John Curtice, professor de política da Universidade Strathclyde, disse que, se Johnson mantiver sua liderança de dez pontos até o dia das eleições - e isso não é nem de longe uma certeza - "isso deve ser suficiente para proporcionar uma maioria geral, não necessariamente uma esmagadora, mas provavelmente o suficiente para ele poder fazer o que ele quer no Brexit".
Curtice, porém, observou que, se os conservadores de Johnson não conquistarem a maioria geral, eles têm menos amigos do que os trabalhistas com os quais negociar acordos.
Em uma manobra pré-eleitoral na terça-feira à noite, Johnson readmitiu dez dos 21 parlamentares que ele expulsou do Partido Conservador no mês passado. Entre os que voltaram está Nicholas Soames, neto de Winston Churchill.
O acordo sobre uma eleição - que deverá ser aprovado pela Câmara dos Lordes nesta semana - é uma rara boa notícia para Johnson, que sofreu derrota após derrota desde que foi selecionado como líder do Partido Conservador e primeiro-ministro em julho.
Os parlamentares aprovaram inicialmente discutir o acordo do Brexit que ele negociou com os líderes da UE, mas a Câmara dos Comuns disse não ao cronograma acelerado que Johnson queria para a aprovação da legislação.
Na segunda-feira, Johnson foi forçado a aceitar de má vontade a oferta da União Europeia de adiar o Brexit até janeiro, e em seguida ele perdeu sua terceira moção para uma eleição antecipada.
Nessa votação, ele precisava do apoio de dois terços dos legisladores - e ficou muito aquém. A proposta desta terça-feira exigia apenas uma maioria simples, mas ele acabou vencendo com facilidade, por 438 a 20, depois que os partidos da oposição deixaram suas objeções.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, que está de saída e passou mais tempo lidando com o Brexit do que ele provavelmente gostaria durante seu mandato de cinco anos, anunciou na terça-feira que os 27 membros restantes da UE aprovaram formalmente uma extensão do Brexit até o final de janeiro.
"Essa pode ser a última. Por favor, façam o melhor uso desse tempo", insistiu ele, acrescentando: "Vou manter meus dedos cruzados por vocês".
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