Oficiais do Tribunal Eleitoral Indiano se reúnem para receber as máquinas de voto eletrônico de um centro de distribuição no sul da cidade indiana de Hyderabad| Foto: Krishnendu Halder / Reuters

Não é fácil o casamento de um brahmin - a casta mais alta - com um dalit (antigamente chamado de intocável). Mas na maior democracia do mundo, onde mais de 700 milhões de pessoas estão aptas a votar à partid desta quinta-feira (16), essa união aconteceu. Surgiu pelo empenho da Rainha dos Dalits, como Mayawati é chamada, a poderosa ministra-chefe do estado de Uttar Pradesh, o mais populoso do país, com 170 milhões de habitantes - quase a população do Brasil. Os holofotes da eleição parlamentarista estão voltados para essa líder de 160 milhões de dalits. A votação vai eleger a nova Câmara Baixa do Parlamento, com seus 543 assentos, e decidir o próximo primeiro-ministro. O estado que Mayawati governa tem o maior número de cadeiras no Parlamento: 80. Líder do BSP, um partido regional, ela conseguiu unir sob o seu guarda-chuva eleitoral os opostos no sistema de castas: brahmins e dalits.

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Até pouco tempo, o BSP era tido como uma legenda só de dalits. De olho no cargo de primeira-ministra, Mayawati ampliou o leque: dos 80 nomes que o BSP indicou para disputar vagas no Parlamento por Uttar Pradesh, 29 são de casta alta. Com isso, ela pretende atrair os votos das castas altas. A fama de Maywati ultrapassou as fronteiras e a revista "Forbes" já a incluiu na lista das mulheres mais poderosas do mundo.

Mayawati tem chances de emergir como líder da Terceira Frente - aliança alternativa aos grandes partidos nacionais, formada entre legendas de esquerda e regionais. A boa notícia para ela é que quem mais comparece às urnas são justamente os pobres e os membros de castas baixas, pois o voto não é obrigatório. A classe média - que rejeita a líder dos dalits - tradicionalmente vota menos, cansada da corrupção. Há duas semanas, um indiano vestido de Mahatma Gandhi foi preso ao pregar o boicote à eleição, numa mensagem contra os políticos corruptos. Também surgiram campanhas na direção oposta. O guru mais famoso da Índia, Baba Ramdev, lidera uma campanha para que os eleitores compareçam às urnas.

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"É preciso fortalecer a democracia, matar a corrupção e conseguir colocar no Parlamento alguns legisladores honestos", disse Ramdev.

A disputa pelo poder provocou uma guerra na principal família da Índia: o clã Nehru-Gandhi, que domina a política desde a independência, em 1947. O sobrenome nada tem a ver com o líder pacifista Mahatma Gandhi. O fundador da dinastia política mais importante do país foi Jawaharlal Nehru, premier do país recém-independente. Ele foi sucedido pela filha Indira Gandhi, que ganhou o sobrenome do marido, com quem teve dois filhos: Sanjay, morto num desastre de avião em 1980, e Rajiv, premier entre 1985 e 1990. Rajiv foi assassinado em 1991 por separatistas.

A dinastia Nehru-Ganhdi está na quarta geração e em pé de guerra, com os dois herdeiros disputando vagas no Parlamento por partidos rivais: Varum, de 29 anos, filho de Sanjay; e Rahul, 38, filho de Rajiv e de Sonia Gandhi. Filho, neto e bisneto de primeiros-ministros, o bonitão Rahul é o solteiro mais cobiçado do país. Seu apelido é O Príncipe. Sonia era a nora queridinha de Indira. Após o assassinato da primeira-ministra em 1984, Sonia passou a adotar o estilo da sogra. Tingiu o cabelo de castanho claro para castanho escuro, e adotou os saris. Aprendeu o hindi e hoje é a mulher mais poderosa da política indiana, presidente do Partido do Congresso, e chefe da família.

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