As eleições gerais na Itália, que ocorrem hoje e amanhã, têm quatro protagonistas, mas 19 chapas participam da disputa para vagas na Câmara dos Deputados e outras 16 concorrem para o Senado.
O primeiro-ministro em fim de mandato, Mario Monti, de 70 anos, anunciou sua saída da arena política no último dia 25 dezembro e, como não pode se apresentar como candidato por sua condição de senador vitalício, várias formações centristas fizeram um fino trabalho de ourivesaria política para que o ex-comissário pudesse concorrer a um novo mandato.
No dia 4 de janeiro, o próprio Monti apresentou a coligação Escolha Cívica, uma parceria com a União de Democratas Cristãos (UDC), de Pierferdinando Cassini, e Futuro e Liberdade (FLI), de Gianfranco Fini, à qual as pesquisas de voto outorgam 16% dos votos.
Monti abandonou seu tom pedagógico de primeiro-ministro para mostrar uma atitude mais agressiva com seus oponentes, defender ferrenhamente as medidas adotadas durante seu governo e se qualificar como o único político capaz de levar o país à frente.
Monti chegou a chamar Berlusconi de "flautista de Hamelin" e de "encantador de serpentes" por sua última proposta de devolver aos contribuintes o imposto pago ao primeiro imóvel, reintroduzido por seu governo.
Os analistas acreditam que a proposta, que Berlusconi guardou na manga pela grande quantidade de votos que pode garantir, pode também acarretar a perda de confiança dos mercados na Itália e jogar no lixo todo o trabalho de credibilidade econômica e de imagem desenvolvida nos 13 meses do governo de Monti.
Berlusconi, de 76 anos, se apresenta como cabeça de chapa ao Senado por seu partido, o Povo da Liberdade (PDL), e conseguiu chegar a 30% das intenções de voto.
Por sua vez, o líder da coalizão de centro-esquerda italiana, Pier Luigi Bersani, de 62 anos, com 38% dos votos, está disposto a devolver à Itália as políticas sociais afetadas pelas medidas de austeridade impostas por Monti, sem abandonar o caminho de recuperação econômica e de crescimento.
Bersani chega a estas eleições junto com o carismático Nichi Vendola, líder de Esquerda, Ecologia, Liberdade, que representa a corrente mais progressista da centro-esquerda com um programa baseado na conversão "ecológica" da economia.
E, finalmente, há o líder do Movimento 5 Estrelas, o humorista Beppe Grilo, que agrada os desencantados pela política italiana, apesar de sua criticada personalidade populista. Seguidor da chamada "antipolítica", Grilo, de 63 anos, tem 16% das intenções de voto e foi ganhando importância na cena eleitoral.
Centro-esquerda é favorita para vencer o pleito
A centro-esquerda de Pier Luigi Bersani é favorita nas eleições, embora a volta da centro-direita de Silvio Berlusconi possa inclusive levar à ingovernabilidade do país.
Nesse duelo histórico entre a centro-esquerda e a centro-direita, com mais ou menos os mesmo protagonistas que nas eleições dos últimos 20 anos, se intrometeu Mario Monti, o ex-comissário europeu eleito pelo chefe de Estado, Giorgio Napolitano, para guiar o país após a renúncia de Berlusconi em novembro de 2011, e que decidiu passar à política para continuar sua ação reformadora.
Os 51 milhões de italianos com direito a voto enfrentarão nas urnas várias situações incomuns que fazem destas eleições um verdadeiro quebra-cabeças. Berlusconi se apresenta como líder de uma coalizão formada por seu partido, Povo da Liberdade (PDL), a Liga Norte e outras formações de direita, mas não é o candidato a primeiro-ministro.
Monti, que representa a coalizão de partidos e associações centristas, não aparece nas listas eleitorais, por já ser senador vitalício e não poder concorrer a uma cadeira.
O campo em que as eleições são verdadeiramente disputadas é o Senado e a Câmara. Os partidos precisam brigar pela maioria da vagas para poder governar o país.