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Os alemães irão às urnas no dia 26 de setembro para escolher um novo Parlamento federal e, consequentemente, o sucessor da chanceler Angela Merkel, que não concorre à reeleição após 16 anos no poder. Nas últimas semanas, a corrida para o posto de primeiro-ministro da maior economia da Europa teve uma reviravolta.
Merkel deixará o cargo com popularidade alta, mas o seu partido, a conservadora União Democrata-Cristã (CDU), e o seu candidato, Armin Laschet, têm caído nas pesquisas de intenção de voto desde julho.
Laschet era o favorito na disputa, mas sofreu queda na popularidade após erros de campanha. Governador do estado da Renânia do Norte-Vestfália, o candidato da CDU enfrentou duras críticas quando foi visto rindo durante uma visita a uma das cidades mais devastadas pelas inundações que atingiram a Alemanha em julho.
Com a queda no apoio à aliança conservadora entre a CDU de Merkel e a União Social-Cristã (CSU), da Baviera, a chanceler aproveitou o seu último discurso ao Parlamento, nesta terça-feira (7), para criticar o candidato Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), seu parceiro na atual coalizão de governo, e que passou a liderar as pesquisas.
Merkel, que não se envolveu na disputa para a nomeação de um candidato do seu partido e estava se mantendo distante da campanha eleitoral, apelou aos eleitores para votarem em Laschet, quem afirmou ser a melhor opção para sucedê-la. Para ela, uma vitória do SPD representaria uma guinada à esquerda socialista.
"Os cidadãos têm uma escolha nos próximos dias: ou um governo com o SPD e os Verdes, que aceita o apoio do partido A Esquerda, ou que pelo menos não o rejeita [...] ou um governo federal liderado pela CDU e CSU com Armin Laschet como chanceler - um governo que guiará nosso país ao futuro com moderação", declarou Merkel.
Para a chanceler, um governo de Laschet representaria "estabilidade, confiança, moderação e equilíbrio, exatamente o que a Alemanha precisa".
Olaf Scholz, que é vice-chanceler e ministro das Finanças de Merkel, procurou se distanciar da Esquerda durante a campanha, dizendo que o partido não se compromete com finanças públicas sólidas e com a Otan, a aliança de defesa mútua entre países europeus e os EUA, que para o candidato é "indispensável". Mas não está descartada uma coalizão com a Esquerda, que é o sucessor dos partidos que governavam a Alemanha Oriental.
Na segunda-feira, a Esquerda se apresentou como possível parceiro de coalizão com a SPD e os Verdes.
Merkel também fez críticas diretas a Olaf Scholz, que em entrevista na semana passada, ao pedir que os cidadãos se vacinem contra a Covid-19, disse que os vacinados, incluindo ele próprio, são "cobaias".
"Ninguém é cobaia em relação à vacinação. Nem Olaf Scholz e nem eu", afirmou a chanceler, ressaltando que todas as vacinas que estão sendo aplicadas na Alemanha cumpriram as exigências para obter aprovação dos órgãos reguladores.
O que dizem as pesquisas?
Faltando menos de três semanas para o dia da votação, as pesquisas mostram o apoio ao partido de Merkel em seu menor nível. No final de agosto, o SPD ultrapassou o bloco CDU/CSU, e tomou a liderança da disputa pela primeira vez.
De acordo com o site Politico, que compila os dados das principais pesquisas de opinião, as sondagens mais recentes indicam que o SPD, de centro-esquerda, está na liderança com 25% da intenção de votos, enquanto a União cristã entre a CDU de Merkel e a União Social-Cristã (CSU), da Baviera, caiu para 21%. Os Verdes aparecem em terceiro com 17%, seguidos pelo liberal FDP (12%), a Alternativa para Alemanha, AfD, da direita nacionalista (11%) e A Esquerda (6%).
Como funciona a votação na Alemanha?
A cada quatro anos, os alemães escolhem os membros do Bundestag, o Parlamento federal da Alemanha, e consequentemente um novo chanceler. Todos os cidadãos do país estão aptos a votar a partir dos 18 anos, e o voto não é obrigatório. Nas eleições deste ano, 60,4 milhões de eleitores alemães poderão ir às urnas.
Os alemães podem enviar o seu voto por correio ou votar pessoalmente no dia da eleição. Para isso, eles devem preencher uma cédula, de papel, fazendo duas escolhas:
No primeiro voto, eles escolhem um entre os candidatos locais, do seu distrito eleitoral. O candidato mais votado em cada um dos 299 distritos eleitorais tem uma vaga garantida no Parlamento. Portanto, metade dos 598 assentos do Bundestag é definida por essa votação.
A outra metade é definida pelo segundo voto, no qual os eleitores escolhem um partido político das listas dos 16 estados alemães. Essa votação determina a porcentagem de assentos que cada partido terá no Bundestag. Mas para ter representação no Parlamento, os partidos precisam atingir um mínimo de 5% dos votos na eleição – regra que, além de barrar a entrada de partidos nanicos, ajuda a evitar impasses políticos.
Com essas duas votações são eleitos pelo menos 598 membros do Bundestag. O número de assentos pode aumentar em determinadas circunstâncias. O Parlamento atual, eleito em 2017, tem 709 membros no total, o maior número na história alemã.
Depois da contagem de votos, os assentos são distribuídos entre os partidos de maneira proporcional aos votos obtidos na segunda escolha dos eleitores. A distribuição também leva em conta a alocação de assentos para cada estado, dependendo do tamanho de suas populações.
Como muito dificilmente um partido conquistará sozinho a maioria do Parlamento, os partidos então precisam negociar para formar uma coalizão de governo, que deve conter a maioria dos parlamentares.
Os candidatos a chanceler são definidos pelas convenções dos partidos meses antes das eleições. O Parlamento deve se reunir dentro de um mês após a divulgação dos resultados, e o grupo de partidos que tiver a maioria comandará o governo.
O cargo de chanceler é o que tem mais poder na Alemanha. O presidente, como chefe do Estado, tem uma função hierárquica mais alta, mas o seu papel é em grande parte cerimonial.