Um ex-guerrilheiro de esquerda, um ex-presidente e o filho de um ex-ditador são os personagens principais da eleição presidencial do Uruguai, com primeiro turno marcado para hoje. O primeiro e favorito é José Mujica, da situação, que suavizou seu discurso e promete continuidade em relação ao atual governo. Em seguida, nas pesquisas, aparece Luis Lacalle, presidente entre 1990 e 1995, do Partido Nacional (Blanco), de centro-direita, e visto como mais liberal. Com poucas chances está Pedro Bordaberry, filho do ex-ditador Juan M. Bordaberry, do Partido Colorado.O atual titular do posto, o oncologista Tabaré Vázquez, assumiu o poder em 2005 e termina seus cinco anos na Presidência com aprovação na casa dos 60%.O principal trunfo de Tabaré está na economia. O Uruguai sofreu com a crise na Argentina no início dos anos 2000, mas o presidente comandou uma recuperação bem-sucedida e soube lidar com a crise internacional. Houve ainda redução na pobreza em seu governo e Tabaré já é visto como forte candidato para um possível retorno em 2015."Deve haver uma manutenção na política, especialmente na economia", prevê o sociólogo Gerónimo de Sierra, da Universidade da República, de Montevidéu. "Há um acordo interno para não se mudar muito."
2º turno
As sondagens indicam que deve haver nova votação em 29 de novembro entre Mujica e Lacalle. "O mais provável é que tenhamos segundo turno, mas não se descarta uma decisão neste domingo. As margens são muito estreitas", comentou o analista Eduardo Botinelli, da consultoria Factum.O candidato do governo aparece com até 49% das intenções de voto, segundo as pesquisas divulgadas no decorrer da última semana. O patamar seria insuficiente para chegar aos 50% mais um e garantir uma vitória ainda em primeiro turno. As sondagens dão Lacalle com, no máximo, 39%, e na casa dos 15%, em terceiro, estaria Bordaberry.
Propostas
De origem simples e ex-ministro da Agricultura, Mujica promete gerar empregos e aprofundar programas sociais. É criticado pela oposição por supostamente representar uma esquerda retrógrada, mas se defende dizendo que seu modelo é o da linha adotada pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. Mujica foi um guerrilheiro tupamaro e esteve preso por 13 anos durante a ditadura.
Lacalle promete algumas reformas liberalizantes, diminuindo o papel do Estado. "Mas não com uma política liberal rígida como nos anos 90", ressalta Alberto Cardarello, professor de Ciência Política da Universidade da República. Já Bordaberry tenta encampar uma bandeira de renovação, notando que é o mais novo dos três candidatos, com 49 anos. Apesar disso, não parece uma ameaça aos dois favoritos.
Tanto Sierra quanto Cardarello acreditam que deve haver uma tentativa de aproximação entre o país e a Argentina. Os vizinhos mantêm em banho-maria a chamada "guerra das papeleiras" desde o fim de 2007, pois os argentinos condenam a instalação de uma fábrica de celulose no município uruguaio de Fray Bentos, no Rio Uruguai, que divide os dois países.
Há piquetes do lado argentino, dificultando o trânsito na fronteira nesta área. A Argentina reclama que a fábrica no país vizinho é uma ameaça ambiental. "O Uruguai não pode ficar brigando com a Argentina indefinidamente", diz Cardarello. Mujica é visto como mais próximo do casal presidencial Cristina e Néstor Kirchner e os especialistas acreditam que ele pode melhorar a relação.
Haverá também hoje plebiscitos sobre dois temas. Um deles é sobre a validade ou não da chamada "Lei da Caducidade", que protege militares dos crimes cometidos durante a recente ditadura no país (1973-85).