Num desempenho surpreendente, o partido Movimento dos Cidadãos e Produtores Rurais (BBB, na sigla em holandês), ligado aos grandes protestos realizados no ano passado contra o plano para reduzir emissões de nitrogênio do governo da Holanda, foi o grande vencedor nas eleições provinciais do país, realizadas na quarta-feira (15).
Segundo projeções e números parciais da apuração (o resultado final será divulgado ao longo da semana), o BBB foi o partido mais votado em todas as 12 províncias holandesas, o que também fará com que seja a legenda com mais assentos no Senado: na Holanda, os 75 senadores são eleitos pelos membros das câmaras provinciais, o que este ano acontecerá no final de maio.
Criado há quatro anos, o BBB, que não tinha assentos no Senado antes desta eleição, deve assegurar pelo menos 16 cadeiras na casa. A coalizão governista, composta por quatro partidos, deve perder cerca de um quarto das 32 cadeiras que possui atualmente.
No ano passado, produtores rurais realizaram grandes protestos depois que o primeiro-ministro Mark Rutte determinou que os governos das províncias holandesas deveriam elaborar até 1º de julho de 2023 estratégias para reduzir as emissões de óxidos de nitrogênio e amônia em 50% até 2030, por meio de cortes que podem chegar a 70% em áreas próximas de habitats de espécies ameaçadas.
A estimativa é que, para atingir essas metas, seria necessário reduzir em 30% o número de animais de pecuária. Uma das medidas cogitadas é a desapropriação de fazendas com grandes números de animais. Os produtores rurais holandeses alegam que esse plano de redução de emissões pode inviabilizar o futuro do setor no país.
Simon Otjes, professor assistente de política holandesa na Universidade de Leiden, disse ao site Politico que o BBB não terá poder sozinho para barrar essas medidas, mas poderá fazer alianças e buscará “atrasar, adiar e ofuscar” os planos da coalizão de Rutte nas câmaras provinciais.
“Os governos provinciais é que vão implementar essas políticas: são eles que vão decidir, por exemplo, quais propriedades serão fechadas”, explicou.
Caroline van der Plas, líder do BBB e única integrante do partido a ocupar uma cadeira na Câmara dos Representantes, a outra casa do Parlamento holandês, declarou que a legenda e os produtores rurais estão dispostos a colaborar com a redução de emissões, mas que isso não pode ser feito nos termos determinados pelo governo nacional.
“Todos na Holanda se preocupam com a natureza, inclusive os produtores rurais”, disse Plas, para quem a vitória do BBB na eleição da semana passada é uma prova de que a população quer que o setor seja mais ouvido nesses debates. “Eles [governo] já não conseguiam nos ignorar. Mas agora, eles definitivamente não podem”, comemorou.
“Aviso inequívoco do eleitor”
Sarah de Lange, professora de política da Universidade de Amsterdã, disse ao Financial Times que a vitória do BBB reflete a insatisfação das comunidades “esquecidas” em geral na Holanda.
“Eles tiveram bom desempenho em regiões periféricas do país que se sentem negligenciadas por Haia [sede do governo holandês]. São locais esquecidos, onde os serviços públicos, hospitais, escolas estão em declínio”, destacou.
Na sexta-feira (17), o próprio Mark Rutte sugeriu que pode rever seu plano para redução das emissões de nitrogênio, ao afirmar que os resultados das eleições provinciais desempenharão “um papel significativo” nas decisões futuras do governo sobre este e outros assuntos.
O primeiro-ministro classificou a vitória do BBB e a perda de assentos da coalizão governista no Senado como um “aviso inequívoco do eleitor” e “um grito para Haia que devemos entender”. “Como gabinete, você vai gradualmente moldando as políticas [públicas], levando em consideração esse tipo de aviso da sociedade”, disse Rutte.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião