Simpatizantes do grupo conservador Tea Party usam cartazes para atacar o governo Obama durante manifestação em Nevada| Foto: Bill Pugliano/Getty Images/AFP

Conservadores

Tea Party ganha espaço na disputa

Além da tradicional disputa entre os partidos Democrata e o Republicano, um elemento novo surgiu para agitar as eleições de meio de mandato nos EUA: o movimento conservador Tea Party, surgido no seio da sigla oposicionista e que ganhou espaço em parte da nação.

O nome do agrupamento é uma referência ao chamado Boston Tea Party, um episódio de 1773, quando colonos americanos queimaram um carregamento de chá em protesto contra o fato de pagarem impostos à metrópole britânica, sem terem representação em Londres.

O professor Phillip Klinkner, do Hamilton College, não considera o Tea Party um movimento independente dentro do Partido Republicano. "A questão é até que ponto esse movimento tem força autônoma, independente, ou é comandado por grupos de interesse republicanos e diferentes interesses corporativos que podem ter ideias diversas daqueles envolvidos na base desse movimento", avalia Klinkner.

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Entrevista: Polarização nas eleições contamina a mídia

Clint Hendler, professor da Universidade de Columbia

Estas eleições estão mais polarizadas também na cobertura da mídia?

Sim, mais do que nunca. Especialmente na internet, mas também nos canais de tevê a cabo há veículos para atrair pessoas de uma ou outra convicção política. E essas coisas realimentam a si mesmas: o público vai a um determinado veículo esperando encontrar certas opiniões políticas, e os veículos conhecem seu público, então eles o abastecem. É claro que sempre tivemos opiniões na mídia, no rádio, colunistas de jornais, mas agora isso parece ser uma parte muito mais importante do ciclo das notícias. Nunca tínhamos visto isso.

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Veja os principais temas abordados nas campanhas e debates eleitorais no Brasil e nos EUA

Estados Unidos e Brasil, duas das das principais potências econômicas das Américas, realizam nesta semana eleições que definirão o futuro político das duas nações. No Brasil, que já elegeu seu novo Congresso, no último dia 3, o que está em jogo neste domingo é o continuísmo de um governo que já se encontra há oito anos no poder. Nos Estados Unidos, onde as eleições para a Presidência ainda vão demorar dois anos, os eleitores escolherão na terça-feira os novos deputados, dois terços dos senadores e 37 dos 50 governadores. Representando a maioria no Congresso desde 2008, os democratas – partido do presidente Ba­­rack Obama – se vê na eminência da perda do controle das duas Casas [Câmara e Senado].

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"No Brasil, os partidos que apoiam o atual governo elegeram, no primeiro turno, 350 dos 510 deputados federais", destaca Emerson Urizzi Cervi, doutor em Ciência Política e professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Pa­­raná (UFPR). Cervi afirma que isso demonstra a alta taxa de aprovação do governo que está terminando. Nos EUA, Oba­­ma foi eleito em 2008 e contava com taxas recordes de popularidade no início do governo. "Mas um ano de­­pois seus índices de apro­­vação caíram pela metade, em grande medida como consequência da crise econômica e dos desgastes políticos pela aprovação da reforma no sistema de saúde", analisa.

As afirmações de Cervi revelam um fato determinante nessas eleições, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos: o momento econômico por que passa cada uma dessas nações. A boa fase econômica brasileira favorece a vitória da candidata da situação, en­­quanto a crise americana – ainda muito presente no dia a dia da população – acaba por afastar ou redirecionar os votos antes democratas.

"Os Estados Unidos estão passando por uma crise pela qual o americano não está acostumado a passar. Para o brasileiro, viver sob a égide de uma crise econômica é algo muito mais natural. Logo, é por isso que nos EUA a eco­­nomia continua sendo o tema central", explica Juliano Corti­­nhas, Co­­ordenador do Curso de Relações Internacionais da Uni­­Curitiba.

E a economia é de fato o tema mais explorado nas campanhas americanas para o Legislativo e para o governo dos 37 estados em disputa. "Os assuntos mais discutidos por aqui têm total relação com o momento econômico. Fala-se muito da necessidade de criação de novos empregos e sobre o perigo do crescimento do déficit fiscal", comenta Alexander Keys­­sar, professor de História e de Políticas Sociais da Universidade de Harvard, EUA.

Apesar dos assuntos econômicos ocuparem grande parte dos debates e discussões em torno da renovação do Legislativo americano e do governo da maioria dos estados, outros temas também têm ocupado espaços de destaque, como o Plano Nacional de Saúde, proposto por Barack Oba­­ma. "Trata-se de um plano que Oba­­ma conseguiu – a duras custas – aprovar, mas os republicanos e conservadores estão lutando fortemente para eleger o nú­­mero suficiente de deputados e senadores para anular o grande projeto de seguro saúde nacional almejado pelo Presidente", analisa David Fleisher, professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB).

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Comparação

No Brasil, por causa do bom mo­­mento econômico, o assunto não tem causado grande polêmica, mas outros temas têm ocupado lugar de destaque nas campanhas eleitorais. "Os temas no Brasil se concentram nas áreas de segurança pública, educação e sáude", aponta David Fleisher. Surpre­­endenetemente – para a maioria dos especialistas – assuntos co­­mo religião e aborto acabaram por ocupar um lugar de destaque, principalmente no que diz respeito à disputa presidencial no Brasil. "A discussão do aborto nos Estados Unidos, bem como outras questões religiosas, são encaradas co­­mo cerceamento das liberdades individuais", afirma Fleisher. Pa­­ra Emerson Cervi a abordagem de assuntos como aborto e religião são descontextualizados e atrasados. "Eles não foram abordados pela ótica pública – no ca­­so do primeiro – ou como liberdade de expressão – no segundo caso. Isso demonstra, por um la­­do, co­­mo políticos são capazes de qualquer coisa para ganhar votos a mais. Por outro, demonstra co­­mo ainda existem ‘rincões’ sociais no Brasil, muito atrasados em re­­lação a determinados temas, ainda considerados tabus."

"Aqui no Brasil, o que vivemos ao fim do primiero turno e ao início do segundo foi o aumento das campanhas e propagandas apelativas. Acho que não cabe a nós dis­­cutir quem começou, mas os partidos perderam muito tempo nes­­sas questões­", finaliza Juliano Cor­­ti­­nhas, da UniCuritiba.