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Nicolas Sarkozy (esq.) com François Hollande, em Paris | Lionel Bonaventure/AFP
Nicolas Sarkozy (esq.) com François Hollande, em Paris| Foto: Lionel Bonaventure/AFP

Austeridade

Em carta a Hollande, premiê alemã fala em tempos difíceis

Agência Estado

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, comentou em uma carta enviada ao presidente eleito da França, François Hollande, a grande responsabilidade de liderar a Europa em meio a tempos difíceis, além de sugerir a necessidade de tomar decisões duras.

"Eu estou certa de que nossa cooperação vai continuar a se fortalecer e vamos aprofundar a tradicional amizade entre nossos povos", disse Merkel na carta.

"Ao mesmo tempo, depende de nós tomar as decisões necessárias para a União Europeia e a zona do euro, de modo a preparar nossas sociedades para o futuro e garantir e aumentar a prosperidade".

Merkel apoiava publicamente o atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, que acabou perdendo para Hollande no segundo turno, por uma pequena margem. Além disso, ela e Hollande discordam do uso de medidas de austeridade para conter a crise da dívida soberana na zona do euro.

O novo presidente da França tem prometido cumprir as metas de redução do déficit orçamentário, mas incentivando também o crescimento econômico.

Ao lado de Sarkozy

Hollande participou ontem de um tributo aos veteranos da 2ª Guerra Mundial ao lado do atual presidente francês, Nicolas Sarkozy, em seu primeiro ato oficial desde a vitória na eleição de domingo. O presidente eleito assume a Presidência da quinta maior economia do mundo na próxima terça-feira.

O novo presidente terá uma série de desafios nos próximos meses, incluindo duras negociações com a Alemanha sobre um acordo orçamentário fechado pelos líderes da União Europeia no final do ano passado.

Hollande também corre contra o tempo para montar sua equipe de governo. A principal definição é do primeiro-ministro. Ele não falou em composição com partidos de esquerda e de centro, mas a aliança será inevitável para garantir governabilidade, já que não conseguiu vencer no primeiro turno.

O posicionamento de Fran­­çois Hollande na campanha eleitoral contra as medidas de austeridade da União Eu­­ropeia (UE) conquistou eleitores insatisfeitos e o levou à vitória nas eleições francesas do último domingo. Eleito presidente da França, o socialista – que até então não tinha nenhuma experiência em cargos públicos – agora tem como desafio transformar seu discurso de campanha em realidade.

O problema é que o reposicionamento do bloco econômico europeu não depende somente da França. Para especialistas, o momento de Hollande comemorar os resultados das eleições já acabou. Sua tarefa agora é convencer a chanceler alemã Angela Mer­­kel, que defende corte nos gastos governamentais, de que a Europa precisa voltar às políticas de crescimento.

Segundo o professor de economia do curso de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco Rogerio Buccelli, Hollande tem uma "batata quente nas mãos". "Ele precisa cumprir o que prometeu em campanha, gerando mais empregos e combatendo a desigualdade. Para isso, deve se projetar politicamente e ganhar espaço na União Europeia", diz.

Buccelli afirma que, sem espaço no bloco, a França dificilmente conseguirá lutar contra a austeridade. Mas antes de conquistar visibilidade internacional, o novo presidente precisa conseguir respaldo no parlamento francês, cuja maioria dos representantes ainda é da ala política de Nicolas Sarkozy. "Conseguindo o apoio doméstico, a missão de Hollande é capitalizar suporte político em outros países da União Europeia e, então, levar a situação para Angela Merkel", diz Buccelli.

Negociações difíceis

Para o macroeconomista das Faculdades Integradas do Brasil, Wilhelm Meiners, as negociações entre a França e a Alemanha não serão fáceis. O maior problema está em convencer Berlim de que o pacote de austeridade não tem mais sustentabilidade para a Europa.

"Angela Merkel deve fazer resistência (em renegociar o corte nos gastos) por causa de pressões de seus grupos de apoio, como bancos e empresas internacionais", prevê.

Para Meiners, o pacto fiscal assinado em 2011 – que protege a unidade do euro e a estrutura da União Europeia – está comprometendo o desenvolvimento de determinados países.

O exemplo mais gritante dado pelo professor é o caso da Grécia, cujo voto de protesto deixou o país em uma indefinição a respeito do governo. "Os gregos chegaram a ameaçar, nos últimos dias, em deixar a zona do euro e abandonar as medidas de austeridade."

Para Buccelli, a situação da Grécia pode servir de ban­­deira para que Hollande con­­siga capitalizar apoio dos­­ europeus para redefinir as­­ políticas de austeridade. "Le­­van­­tando a crise grega, ele pode ganhar espaço na União Europeia e justificar as medidas de desenvolvimento que defendeu durante a campanha", observa.

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