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Curitiba – Mesmo que a Constituição do Iraque não seja aprovada, o referendo de hoje tem seu lado positivo. Para o especialista em Oriente Médio Samuel Feldberg, professor da Universidade de São Paulo (USP), a população acumula "experiência democrática" ao se dirigir às urnas e exercer o direito de determinar o futuro do país. A votação deve funcionar como um ensaio para as eleições presidenciais de janeiro.

O Iraque atravessou três décadas de ditadura marcadas por três guerras – a Guerra Irã-Iraque (1980–1988), a Guerra do Golfo (1990–1991) e a guerra deflagrada com a ocupação do país pelas forças militares lideradas pelos Estados Unidos (março de 2003). O governo provisório ainda se sustenta com ajuda externa diante de ataques da resistência e dos grupos terroristas.

Para Feldberg, a participação dos iraquianos deve ser suficiente para dar legitimidade à Constituição, caso o documento seja aprovado. "A proporção de eleitores disposta a ir às urnas parece maior que a registrada inclusive nos Estados Unidos." Além disso, em sua avaliação, o processo seguirá regras aceitáveis, uma vez que um resultado duvidoso poderia agravar o conflito interno.

Outros analistas são mais pessimistas. Eles destacam que a Constituição – que vai transformar o país numa federação e demarcar regiões considerando questões étnicas – deve oficializar as divisões entre curdos, sunitas e xiitas. A minoria sunita se diz prejudicada pelo texto e vem sendo responsabilizada por atentados terroristas desde 2004. A discordância sobre a divisão territorial, que implica no domínio sobre as reservas de petróleo, pode estar sendo prorrogada. O negociador de conflitos no Oriente Médio Robert Malley afirma que a questão central não é a democracia, mas o pacto político que a Carta representa. Ele diz que a divisão do poder corre o risco de não funcionar na prática.

Os analistas concordam que a Constituição não garante o respeito aos princípios democráticos, apesar de representar uma peça importante para a saída das tropas estrangeiras do país no ano que vem. Eles consideram que a guerra interna deve continuar, mesmo após a eleição de um novo governo. Apesar de prometer sustentação política, a Carta teria avançado menos do que o esperado.

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