Rio de Janeiro (AG) Vivendo na Inglaterra há três anos, o mineiro Jean Charles de Menezes tinha planos de voltar para o Brasil em um prazo de seis meses. Jean cursou até o segundo grau na cidade de Gonzaga, em Minas Gerais, foi morar em São Paulo aos 18 anos, onde fez um curso de eletricista, e partiu para a Europa aos 24 anos em busca de uma oportunidade de emprego.
Durante o período em que esteve fora, Jean visitou o Brasil duas vezes. Na última, chegou a ficar no país por quatro meses, voltando à Inglaterra em abril. Ao partir, ele confessou sentir saudades e estar guardando dinheiro para voltar. "Ele tinha planos de voltar porque toda a família está aqui. Ele foi para Londres conseguir alguma coisa para ficar mais tranqüilo quando voltasse. E estava conseguindo porque trabalhava muito e falava inglês muito bem", contou a prima Leide Menezes de Figueira, por telefone.
Segundo ela, Jean ligava freqüentemente para a avó, com quem morou até terminar o segundo grau. Seus pais, de origem humilde, moravam em uma fazenda no povoado de Córrego dos Ratos, há 40 minutos de Gonzaga. Próximo ao local, só havia escolas com ensino de primeiro grau.
O primo Cléber Rabelo de Menezes, de 33 anos, disse ter ficado surpreso com a notícia. "Ele tinha plano de voltar em seis meses e já tinha até comprado uma caminhonete S-10, que ficava com o irmão em São Paulo. Ele dizia que não gostava muito de Londres, mas aqui ele não conseguiria tudo o que queria. Do lado financeiro, Londres era bom, mas aqui é que ele queria estar", contou.
Segundo Cléber, Jean mandava dinheiro periodicamente para a família, especialmente para as despesas com o telefone que ficava na casa de sua avó, por meio do qual mantinha contato com os parentes.
Responsável por dar a notícia da morte à mãe de Jean, que tem 50 anos e a saúde debilitada, Cléber disse que a tia ficou muito triste. "A minha tia ficou muito mal e disse que não vai agüentar. Ela teve de ser medicada porque tem problema no coração e pressão alta", disse.
A família de Jean agora quer justiça: "Eu tive a informação de que a morte do Jean foi um erro muito grave da polícia. O Alex (Alex Alves dos Santos, um dos primos que moravam com Jean em Londres e que reconheceu o corpo) está cobrando muito deles e disse que eles foram uns monstros. Como é que pode? Ele estava indo trabalhar e levou cinco tiros à queima-roupa? Isso é um caso muito grave", revoltou-se Cléber.
Segundo ele, a família até agora não recebeu nenhum telefonema do governo brasileiro ou britânico.
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