A atividade cerebral de um paciente que estava há seis anos em estado de mínima consciência foi restabelecida por médicos da Faculdade Médica Weill Cornell, em Nova York, por meio da estimulação elétrica de uma específica região do cérebro, onde foram implantados eletrodos, informa a edição online da revista científica britânica "Nature".
Graças ao tratamento - inédito para este tipo de problema -, depois de anos apresentando apenas sinais esporádicos de consciência, sendo alimentado através de um tubo, impossibilitado de mover os braços e comunicando-se apenas através de movimentos dos olhos e do polegar, o homem de 38 anos, que sofreu severos danos no cérebro após ser agredido durante um assalto, em 1999, agora já fala e consegue mastigar e engolir alimentos.
A técnica, que consiste na implantação de eletrodos no cérebro do paciente para o envio de impulsos elétricos, já vem sendo utilizada com sucesso em pessoas que sofrem do mal de Parkinson, mas essa é a primeira aplicação em um paciente em "estado minimamente consciente" - quadro clínico no qual se encaixam de 100 mil a 300 mil pessoas em todo o mundo, segundo a OMS.
Ao estimular o tálamo central, região do cérebro responsável pelo controle motor e pela transmissão dos estímulos sensoriais para o córtex cerebral, a parte do cérebro relacionada à consciência, os pesquisadores permitiram ao paciente nomear objetos e fazer gestos complexos com as mãos, como pentear o cabelo, embora ainda com alguma dificuldade.
- Antes do uso da estimulação cerebral profunda, a capacidade de comunicação do paciente era irregular, consistindo apenas de poucos e leves movimentos de olhos e dedos. Agora, ele faz uso regular de palavras e gestos e responde a perguntas rapidamente - contou um dos autores do estudo, Joseph T. Giacino.
Apesar dos inegáveis progressos, o paciente, que teve a identidade preservada a pedido da família, ainda não consegue começar uma conversa ou andar.
- O estudo não sugere que a estimulação cerebral profunda seja a 'cura' para o estado de mínima consciência. Ele sugere que o procedimento pode ser adaptado para beneficiar alguns pacientes em "estado minimamente consciente" e enfatiza que melhoras podem ser alcançadas mesmo por pacientes que tenham sofrido danos cerebrais há muito tempo - ressalta Paul Matthews, neurocientista do Imperial College de Londres.
James Bernat, professor de neurologia da Escola Médica de Dartmouth (EUA) que não participou do estudo, diz que a pesquisa é empolgante e importante. Mas que é preciso descobrir quais pacientes têm chance de responder ao tratamento. A mesma técnica não ajudou Terri Schiavo, paciente americana que ficou anos em estado vegetativo e cuja eutanásia provocou controvérsia mundial em 2005.
Testes em mais 12 pacientes já receberam a aprovação da Agência de Drogas e Alimentos dos EUA (FDA na sigla em inglês). Os cientistas acreditam que, se os resultados se repetirem, os padrões de tratamento para esse tipo de paciente poderão ser totalmente modificados.Assine O Globo e receba todo o conteúdo do jornal na sua casa
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