O Fórum Econômico Mundial (FEM) de Davos, na Suíça, é conhecido por ser um evento anual que reúne as elites políticas, empresariais e acadêmicas do mundo para “discutir” os “grandes desafios globais” e as suas possíveis soluções. Mas, além dos debates sobre mudanças climáticas, emissões de carbono zero e até eventuais plataformas de censura ao discurso político, o FEM também tem sido nos últimos anos um cenário propício para a procura de serviços de acompanhantes, também conhecidas como "prostitutas de luxo".
Conforme informações divulgadas pela mídia local, a 54ª edição do evento, que ocorreu entre os dias 15 e 19 deste mês, não foi exceção. Durante a semana do Fórum, o portal de notícias suíço 20 minuten afirmou que a demanda por acompanhantes na região de Davos aumentou significativamente.
Em entrevista ao portal, um indivíduo identificado apenas como B. Konrad, proprietário de um aplicativo de acompanhantes de luxo chamado "Titt4Tat", observou que todos os provedores desse tipo de serviço em Davos ficaram "completamente reservados" durante os dias em que ocorreu o evento organizado por Klaus Schwab.
A explicação dele para essa alta demanda envolvia a “ausência das esposas” de muitos dos participantes do Fórum e o consumo de altas quantidades de bebidas alcoólicas durante as festas que permeiam o evento.
O sucesso da plataforma de Konrad é um indicativo do quão popular e comum têm se tornado os serviços de prostituição durante o Fórum Econômico Mundial, que chega a reunir quase 3 mil pessoas e diversos chefes de Estado.
Segundo observou o proprietário da Titt4Tat ao 20 minuten, os serviços de acompanhantes em Davos não têm se limitado ultimamente apenas a aspectos físicos. Ele mencionou que muitas vezes tais encontros entre pessoas que participam do Fórum e acompanhantes, que ocorrem por plataformas que viabilizam este tipo de atividade, chegam a servir também como uma forma de networking.
O proprietário citou ao portal suíço o caso de uma acompanhante alemã que conseguiu um emprego como consultora em uma grande empresa por meio dos "contatos" que foram estabelecidos enquanto ela prestava seus “serviços” nos dias em que teve acesso ao FEM.
"Uma acompanhante da Alemanha relatou recentemente que, através de seus contatos no Fórum Econômico Mundial, conseguiu um novo emprego como consultora para uma grande empresa”, disse Konrad ao 20 minuten.
Na suíça, a prostituição é uma atividade legal e regulamentada desde 1942, o que significa que essa “profissão” também tem se beneficiado das receitas que são geradas pela realização da conferência exclusiva na cidade montanhosa.
Segundo informações do site independente canadense True North, as acompanhantes de Davos neste ano chegaram a cobrar de seus clientes cerca de US$ 4,4 mil (R$ 21,6 mil) por noite. O site veiculou que uma acompanhante em Davos, identificada como "austrian_girl", estava anunciando seus serviços como "acompanhante exclusiva" por cerca de 800 euros (R$ 4,3 mil) para cada duas horas de serviço prestado.
A procura na cidade onde ocorre o Fórum e tão grande que acaba sobrando até para as vizinhas. A gerente de um serviço de acompanhantes de Argóvia, cidade suíça que fica localizada a 170 quilômetros de Davos, disse de forma anônima em uma entrevista concedida em 2023 ao portal 20 minuten, que também foi citada pelo jornal alemão Bild, que chegou a receber na edição do Fórum do ano passado 11 reservas e 25 consultas de supostos clientes interessados nos serviços de prostituição local, tudo isso apenas no primeiro dia do evento.
Ela mencionou que alguns desses clientes, que na maioria das vezes se apresentavam por terceiros ou conversavam com ela de forma anônima, reservavam tais serviços para si e seus funcionários e que eles eram agendados para ocorrer em festas que muitas vezes eram realizadas em suítes de hotéis locais caros.
Konrad afirmou neste ano ao 20 minuten que “muitos [de seus] clientes em Davos não são sensíveis a preços e valorizam mais a privacidade [que é] oferecida” por seu aplicativo.
Ao portal suíço, uma acompanhante que está presente no aplicativo de Konrad detalhou como foi prestar seus “serviços” durante o Fórum do ano passado. Identificada como Mia May, ela conta que "dependendo do cliente, uma reserva [para o serviço] dura entre 4 e 12 horas". O custo para que ela fique por um tempo maior é de cerca de 2 mil francos suíços (R$ 11,3 mil), com 200 francos (R$ 1,1 mil) sendo pagos de forma antecipada.
Segundo May, todo o processo para viabilizar o "trabalho" é feito de forma sigilosa e sua segurança “está sempre garantida”. “Em caso de emergência, protocolos específicos são acionados", disse ela, ao se referir sobre eventuais problemas que possam ocorrer durante a “prestação dos serviços” de prostituição em Davos.
Em entrevista ao 20 minuten no ano passado, a acompanhante Salome Balthus revelou que a maioria das pessoas que contratam prostitutas em Davos são influentes e poderosas em seus países. No entanto, ela não quis revelar nenhum nome, afirmando que não “seria interessante” se envolver em uma disputa judicial com essas pessoas.
Citando uma investigação feita pelo jornal britânico The Times, o também britânico Daily Mail, divulgou uma reportagem durante a edição do Fórum de 2023 onde revelou que cerca de 100 prostitutas chegam a viajar para Davos durante os dias em que ocorrem o Fórum Econômico Mundial.
A reportagem citou um caso específico onde uma acompanhante denunciou que teria sido forçada por seu “patrão” a ter relações sexuais com um cliente mais velho em um hotel que estava reservado somente para indivíduos que foram convidados para participar do evento.
Tais informações revelam uma faceta que ainda é pouco discutida sobre o FEM, que ironicamente teve como tema este ano o slogan “Reconstruindo a Confiança”. Enquanto líderes e especialistas debatem no evento supostas “soluções” para os “desafios globais”, uma indústria paralela de serviços de prostituição vem florescendo e sendo constantemente alimentada todos os anos, destacando a complexidade e as contradições presentes em eventos globais de grande escala.
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