O assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, confirmou nesta tarde que o presidente dos EUA, Barack Obama, enviou domingo passado uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na mensagem, Obama justifica a posição da Casa Branca favorável à realização das eleições em Honduras sem que o presidente deposto Manuel Zelaya tenha reassumido o comando do país.
Garcia reafirmou a posição brasileira em relação a Honduras de não reconhecer as eleições. Classificou como "lamentável" as eleições em Honduras. "É lamentável que se queira limpar um golpe de Estado com um processo de eleição que se realiza num país que viveu virtualmente sob estado de sítio nesses últimos meses, com repressão diária, manifestações, com determinados momentos inclusive com estado de sítio declarado. Achamos que isso não é bom inclusive do ponto de vista do diálogo dos EUA com a América Latina", disse ele.
Para Marco Aurélio Garcia, os EUA estão apostando que o processo eleitoral será calmo e funcionará como uma forma de recuperar o diálogo. "A eleição não vai transcorrer em um clima tranquilo porque haverá uma parte importante da população que não vai participar. E essa eleição sofreu interrupção de alguns meses de um regime de exceção. Ela não resolve problemas, ela vai agravar problemas", disse.
Falta de sintonia
Na sua opinião, a postura dos EUA é "equivocada", um endosso aos golpistas de Honduras. Para Garcia, os EUA podiam ter feito mais pressão do que fizeram pela volta de Zelaya. "Eles poderiam ter utilizado pressões mais fortes, como usaram em outras situações". Garcia disse ainda que no caso da crise política hondurenha "há um nítido desacordo (dos EUA) com o Brasil".
Na avaliação do assessor especial da Presidência, o Brasil entende que o "presidente Obama vem enfrentando uma situação complexa no seu país, com uma agenda interna difícil, complexa. Mas isso está provocando uma certa frustração. O presidente Lula continua com expectativas de que possamos ter um bom relacionamento com os Estados Unidos. Mas a grande verdade é que há um certo sabor de decepção que nós queremos que seja revertido". E completou: "Todo aquele clima favorável que se criou com a eleição do presidente Obama - que se fortaleceu na reunião lá de Trinidad e Tobago - começa a se desfazer um pouco. Por que reconhecer um governo golpista que usou de instrumentos extremamente ilegais, violentos, rompeu o equilíbrio que havia naquele país?"
Hóspede
Sobre a presença do presidente deposto Manuel Zelaya no prédio da embaixada brasileira em Tegucigalpa, Garcia afirmou: "o problema não é o Zelaya na embaixada, o problema é o Zelaya fora do palácio do governo".
Garcia disse que, na carta, o presidente Obama também trata da questão da Rodada Doha, da Organização Mundial do Comércio (OMC) que está com as negociações travadas.
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