O Peru elegerá, neste domingo (5), seu próximo presidente. Nas pesquisas de intenção de voto, Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, lidera a disputa, mas a vantagem sobre o candidato Pedro Pablo Kuczynski é pequena. A possibilidade de um retorno do clã Fujimori ao poder motivou protestos de larga escala em Lima. O ex-presidente está preso por corrupção.
Além da volta dos Fujimori, também chama a atenção a derrota da esquerda peruana nas eleições. Segundo colocado nas eleições, Kuczynski – conhecido pela sigla PPK, que também significa Peruanos Por el Kambio (peruanos pela mudança), nome do seu partido – é um economista liberal, que trabalhou no Banco Mundial, no Fundo Monetário Internacional e com bom trânsito em Wall Street.
Apesar disso, ele recebeu o apoio, no segundo turno, de lideranças de esquerda, como a candidata derrotada Veronika Mendoza – que ficou em terceiro lugar, com apenas 19% dos votos. Até mesmo o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, declarou apoio à candidatura de Kuczynski – ou melhor, defendeu um voto contra a filha do ex-ditador.
Todos contra Fujimori
O clima no Peru é de todos contra Fujimori. O pai da atual candidata governou o país entre 1990 e 2000. Durante parte desse período, ele governou sob regime de exceção, após fechar o Congresso e dar um “autogolpe” de estado em 1992. Mesmo depois do que se chamou de “governo de emergência e reconstrução nacional”, há registros de perseguições à imprensa, políticos e manifestantes contrários a seu governo.
Fujimori também foi acusado de fraudar as eleições presidenciais em 2000 – ele foi eleito presidente também em 1990 e 1995. Em meio a uma crise política, renunciou e fugiu para o Japão em novembro do mesmo ano.
O governo Fujimori foi notoriamente corrupto. A ONG Transparência Internacional estima que o ex-presidente desviou cerca de US$ 6 bilhões durante os dez anos no qual foi presidente. Em 2007, ele foi extraditado e preso, e entre 2009 e 2010, condenado por crimes que vão de corrupção ativa a violações aos direitos humanos. Esses fatores levaram à união de lideranças de todo o espectro político contra Keiko.
Apesar disso, o “fujimorismo” recuperou sua popularidade nos últimos anos. Ao ex-presidente é atribuída a estabilização da economia do país, nos anos 90, e sua postura em relação ao terrorismo é elogiada por parte da população. A queda em popularidade do atual presidente, o centro-esquerdista Ollanta Humala, também favorece Keiko – que tem afirmado que seu opositor representa a continuidade do atual governo.
Em abril, Keiko venceu o primeiro turno e seu partido, o Fuerza Popular, conseguiu 56% das cadeiras no Congresso. Pesquisa do instituto Ipsos Peru, de 28 de maio, mostrava a filha do ex-presidente com 45% das intenções de voto, contra 40% de Kuczysnki– este é o último levantamento disponível.
Os dois candidatos defendem plataformas liberais para economia
Apesar dos perfis bastante diferentes, Keiko Fujimori e Pedro Pablo Kuczynski apresentam propostas similares para a economia. Após 15 anos de governos de centro e centro-esquerda no país, ambos defendem plataformas liberais e a atração de investimento estrangeiro. Questões paralelas, como o “internacionalismo” de Kuczynski e o passado sombrio da família Fujimori, dominam o debate presidencial no segundo turno.
Ao longo da campanha, Keiko tem apelado para a biografia internacional de Kuczynski para tentar desencorajar o voto no adversário. Uma viagem do candidato para Nova York, onde moram seus filhos, serviu como arma de campanha para a filha do ex-presidente, que acusa o adversário de não se preocupar com a população peruana. A estratégia tem dado certo. Após começar o segundo turno em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, ela virou e agora é favorita para vencer neste domingo (5).
Já Kuczynski tem afirmado que sua adversária será um títere do pai, o ex-presidente Alberto Fujimori. “Está claro para todos que Keiko quer tirar o pai da cadeia, e que ele estará controlando o governo de fato”, disse, em entrevista ao jornal Washington Post. Apesar disso, ele não tem participado dos protestos contra Fujimori.
2011
Nas eleições passadas, em 2011, ambos foram candidatos. No primeiro turno, Keiko ficou em segundo lugar e Kuczynski ficou em terceiro. No segundo turno, Kuczynski declarou apoio à atual adversária, contra Ollanta Humala, do Partido Nacionalista Peruano – que foi eleito presidente com 51,45% dos votos válidos. (CM, com Washington Post)
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