Fã de Donald Trump, a baiana Verônica Silvany tentou de tudo para estar presente na convenção do Partido Republicano, em Cleveland. Tanto fez que acabou conseguindo de uma amiga um convite para o último dia do evento. “É um momento épico, não podia perder”, disse Silvany, 57, que mora no Estado da Virgínia, distante quase 600 km de Cleveland.
Chegou produzida para deixar claro quem é e o que pensa, boné com a bandeira do Brasil e um cartaz feito em casa com os dizeres: “Latinas por Trump”.
Para muitos latinos nos EUA soa como uma proposta indecente, depois de algumas tiradas do candidato republicano em sua campanha, como chamar mexicanos que chegam aos EUA de estupradores e criminosos e prometer deportar todos os imigrantes ilegais. Sem falar na promessa de construir um muro na fronteira com o México.
“Ele fala a verdade. Tem muito lixo entrando entre os imigrantes ilegais”, diz Silvany, que vive desde 1964 nos Estados Unidos, quando o pai foi trabalhar na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.
Ela conta que só se interessou em ter a cidadania americana em 2008, para poder ir às urnas nas eleições presidenciais e votar contra Barack Obama. Sua decepção com o Partido Democrata havia começado bem antes, mas aumentou com o governo de Obama.
“Ele dividiu ainda mais o país, não só entre brancos e negros, mas também economicamente entre religiões, com o medo de falar a verdade. O nome certo para politicamente correto é censura política”, diz.
Criada em Nova York, depois que o país passou a trabalhar na sede das Nações Unidas, ela afirma que por isso entende o estilo direto do magnata e não vê nenhum motivo para se ofender. “É bem nova-iorquino, sem rodeios. Como eu”.
Silvany é uma exceção entre os latinos que vivem nos EUA. Pesquisas mostram que sete em cada dez se opõem a Trump e preferem sua provável rival democrata na eleição presidencial de novembro, Hillary Clinton.
Em 2012, Obama ganhou a reeleição com um índice até maior - levou 73% dos votos latinos. A baiana não se importa em estar em minoria.
“Os latinos deveriam entender que têm muito mais valores em comum com os republicanos, como a família, a religião e a oposição ao aborto”, diz. Sobre Hillary, uma palavra resume o que pensa: “Desonesta”.