Desgaste
Mesmo após o fim da Guerra Fria, as relações entre EUA e Rússia sempre foram marcadas por desavenças. Confira alguns episódios controversos.
1991 Após a Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia estabeleceram relações diplomáticas.
1999 O então presidente russo, Boris Yeltsin, critica os EUA pela intervenção nos conflitos em Kosovo e ameaça com o uso de armas nucleares.
2003 A Rússia se opõe fortemente à Guerra no Iraque e diz que se trata de uma invasão à zona de influência russa na Ásia. Os EUA respondem acusando de autoritário o governo de Vladimir Putin.
2007 Projetos militares norte-americanos na Polônia e na República Tcheca revoltam o governo russo, que inaugura seu míssil balístico intercontinental.
2008 A Geórgia invade a Ossétia do Sul, um estado da Rússia, com o apoio dos Estados Unidos. O conflito gera uma nova crise diplomática entre os países.
2010 Dez pessoas são detidas nos EUA, suspeitas de atuar como agentes do governo russo em território americano de maneira ilegal.
2011 Os conflitos na Síria colocam novamente americanos e russos em lados opostos. Enquanto os EUA ameaçam uma invasão, a Rússia defende a atuação pacífica.
2012 Os EUA proíbem a entrada no país de russos envolvidos em violações dos direitos humanos. Em resposta, a Rússia aprova lei vetando a adoção de crianças russas por norte-americanos.
Durante décadas, norte-americanos e russos protagonizaram um embate que, sem confronto armado ou derramamento de sangue, se tornou um dos mais representativos do século 20. A Guerra Fria colocou Estados Unidos e União Soviética na disputa pelo domínio político de um mundo polarizado entre capitalistas e socialistas. Passados mais de 20 anos de seu encerramento, denúncias de espionagem e a relação cada vez mais deteriorada entre os governos dos EUA e da Rússia reacendem a lembrança do conflito.
Mesmo após o fim da Guerra Fria, em 1991, a relação entre norte-americanos e russos nunca foi das mais harmônicas. Um quadro que vem se agravando desde a década passada e que há cerca de duas semanas ganhou uma nova polêmica. A decisão do governo russo em dar asilo político a Edward Snowden, o ex-técnico da CIA que denunciou um esquema de espionagem americano, desagradou os EUA. A ponto de o presidente Barack Obama cancelar o encontro que teria em setembro com o mandatário russo, Vladimir Putin.
"Há momentos em que eles [o governo russo] recaem no modo de pensamento da Guerra Fria, na mentalidade da Guerra Fria", criticou Obama. "Essa decisão [o cancelamento do encontro] está relacionada a um problema que nós não criamos. E mostra que os EUA continuam despreparados para construir uma relação de igualdade", rebateu o governo russo através de seu porta-voz Yuri Ushakov.
Diferenças
Apesar das desavenças, especialistas acreditam que uma comparação da época atual com o período da Guerra Fria não é tão pertinente. Francisco Teixeira, historiador e cientista político do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), lembra que, no passado, o que estava em jogo era a hegemonia de um sistema político. "Hoje, nem os EUA, tampouco a Rússia, querem impor seu modelo político. O que existe é uma rivalidade entre grandes potências, baseada em interesses econômicos e estratégicos", afirma.
Mesmo o acréscimo ao contexto atual da espionagem, um ingrediente característico da Guerra Fria, guarda suas diferenças. "O caso Snowden, ao que parece, não é um caso de espionagem, já que ele não era espião a soldo de outros países, e sim um caso de vazamento de informações. Assim, o paralelo não parece tão claro", avalia Angelo Segrillo, professor de História Contemporânea da Universidade de São Paulo (USP).
Momento é preocupante, diz analista
Os rumos que a relação entre Estados Unidos e Rússia pode tomar ainda são incertos, mas não é de hoje que predomina essa incerteza. Em artigo escrito para o jornal britânico The Guardian em fevereiro deste ano, o então diretor do Programa Rússia e Eurásia do Fundo Carnegie para a Paz Internacional em Washington, Matthew Rojansky, já alertava que o relacionamento entre os dois países vivia seu momento mais preocupante desde 2008. Naquele ano, os EUA apoiaram a invasão de um estado russo pela Geórgia, gerando um conflito diplomático entre as potências.
Antes do caso Snowden, norte-americanos e russos já haviam entrado em conflito. No final do ano passado, os EUA aprovaram uma lei proibindo a entrada no país de cidadãos russos envolvidos em casos de violação dos direitos humanos. Em represália, a Rússia proibiu que crianças do país sejam adotadas por norte-americanos.
"Desde aqueles dias sombrios [do conflito na Geórgia] não se viam tantas portas se fecharem em Washington e Moscou ao mesmo tempo. O silêncio é ensurdecedor", apontou Rojansky, ao defender que aquele era o momento de abrir todos os canais de diálogo possíveis. "Se russos e americanos desejam ter uma relação na qual não seja necessário um recomeço em poucos anos, os dois lados devem manter as bases do diálogo e da troca que construíram a partir do fim da Guerra Fria", frisou.
Retórica
Outros analistas não acreditam no agravamento da crise. "Os Estados Unidos precisam da Rússia para administrar alguns conflitos regionais, como na Síria e na Coreia do Norte. Se endurecerem, vão perder uma parceria importante", avalia Francisco Teixeira. "A retórica belicosa inicial dará lugar ao pragmatismo tão logo Snowden deixe a Rússia. É um daqueles casos em que a retórica supera a realidade", acrescenta Angelo Segrillo.
Disputa ideológica
A mais célebre disputa do século 20 não resultou em conflito armado. A chamada Guerra Fria foi uma disputa ideológica entre Estados Unidos e União Soviética que se estendeu por 45 anos. Iniciada após o encerramento da Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria representou um conflito diplomático, econômico e tecnológico, no qual estava em jogo a expansão de dois sistemas políticos, o capitalismo norte-americano e o socialismo soviético. O conflito se encerrou em 1991, após o fim da União Soviética e a derrocada do comunismo.
Espionagem
Foi durante a Guerra Fria que as técnicas de espionagem se aperfeiçoaram. Com as duas superpotências medindo forças, era comum agentes se infiltrarem no país rival em busca de informações sobre tecnologias e potencial armamentista. Conheça alguns casos que se tornaram célebres nesse período.
Julius e EthelEm julho de 1950, o FBI prendeu o engenheiro elétrico Julius Rosenberg e sua mulher, Ethel, suspeitos de participação em um esquema de espionagem. Mesmo alegando inocência até o fim e com inúmeros apelos em sua defesa, o casal foi condenado à morte e executado em junho de 1953. A culpa do casal Rosenberg jamais seria comprovada.
Kim PhilbyFilho de um diplomata, Kim Philby entrou para o serviço secreto soviético em 1933 e, anos mais tarde, ingressou no Serviço Secreto de Inteligência Inglês (SIS). Foi enviado aos Estados Unidos, onde durante muito tempo atuou como agente duplo. Após 30 anos de atividade, obteve a cidadania soviética e foi admitido como consultor da KGB.
Oleg Kalugin
O russo Oleg Kalugin chegou aos Estados Unidos com 24 anos para estudar jornalismo, mas sua missão real era conseguir informações confidenciais para a KGB. Após décadas de espionagem, se desiludiu com o sistema comunista e mudou-se para os Estados Unidos, onde obteve cidadania americana. Na Rússia, foi acusado de traição e condenado a 15 anos de prisão.
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