A Venezuela vai facilitar o acesso da população à moeda estrangeira. A iniciativa de flexibilizar o controle sobre a conversão de moedas faz parte de uma estratégia do governo do ditador Nicolás Maduro para combater a grave crise econômica e social que atinge o país. O Fundo Monetário Internacional (FMI) projeta que, neste ano, a inflação atingirá 1.000.000% e a economia encolherá 18%.
A medida aprovada pela Assembleia Constituinte revogou uma lei implementada em 2003 pelo então presidente Hugo Chávez, que criminalizava as operações cambiais, com o objetivo de evitar a fuga de capital do país. Mas, nos anos seguintes, o regime de câmbio gerou corrupção generalizada e deixou indústrias locais sem divisas necessárias para as importações.
As mudanças devem entrar em vigor em 20 de agosto, quando o governo planeja simultaneamente eliminar cinco zeros da moeda, que praticamente não tem valor.
Desestruturação
A depressão profunda forçou Nicolás Maduro a começar a desmantelar um sistema complexo que deixou cidadãos desesperados por comida e remédios. Mas a repercussão da medida não foi favorável. "Não acho que isso mudará significativamente a economia venezuelana", disse Francisco Ibarra, diretor da consultoria Econométrica. “O governo não está totalmente convencido de liberar controles cambiais".
O governo não informou a que taxas ofereceriam a venda de moedas estrangeiras em casas de câmbio. Em abril, Maduro concedeu 16 licenças de câmbio para permitir negociações com o bolívar e as criptomoedas.
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Como os dólares estão escassos nas casas de câmbio, a maioria dos venezuelanos depende de um próspero mercado negro que criou enormes disparidades e distorções. Enquanto a cotação oficial, determinada por leilões semanais no Banco Central, é de 172,8 mil bolívares por dólar, nas ruas, a moeda americana é vendida a 3,5 milhões de bolívares.
As autoridades venezuelanas fiscalizam regularmente os preços e obrigam os donos de empresas a reduzir os preços para que estejam adequados às taxas oficiais de câmbio. Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, acredita que a medida aprovada nesta quinta-feira poderia aliviar as distorções.
Segunda mudanã
O anúncio é o segundo na semana que muda uma regra econômica vigente desde a era Hugo Chávez (1954-2013). No sábado (28), Maduro declarou que alterará a política de preços da gasolina, a mais barata do mundo, hoje em 6 bolívares o litro (R$ 0,00001). O regime também convocou a população a um censo automotivo e determinou que os preços subsidiados só valerão para os portadores da Carteira da Pátria, que controla programas sociais e de distribuição de alimentos.
Dois dias antes, havia aumentado de três para cinco o número de zeros a serem cortados do bolívar, o que também inviabilizaria a cobrança da própria gasolina e de serviços como telefonia, energia elétrica e transporte público.
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