Barack Obama vai ser nos próximos dias o assunto principal em cada esquina de Havana, com exceção do “paredão dos cretinos”, o mural que Cuba reservou aos presidentes dos Estados Unidos antes de que ganhassem popularidade na ilha comunista.
Visita quase obrigatória dos turistas, o Museu da Revolução, que exalta os atos guerrilheiros protagonizados pelos irmãos Castro, exibe em seu primeiro andar um mural dos anti-heróis. Ronald Reagan é um ‘caubói’, George Bush pai um imperador romano e seu filho George W. Bush usa um capacete nasitas do qual saem orelhas de burro.
Estão representados todos os ex-presidentes de Estados Unidos, mas, principalmente os “cretinos”, que teriam ajudado a “fortalecer e consolidar a Revolução” “tornar irrevogável o socialismo”, segundo as placas escritas em inglês, francês e espanhol.
Os desenhos em relevo e grande tamanho provocam risos nervosos ou comentários politicamente incorretos, que Cristopher, um guia cubano, tenta matizar com um esclarecimento evidente: “são caricaturas, é diversão”.
Mas e Obama? Não, ele jamais poderia estar nesse mural. O presidente que terminou com mais de meio século de inimizade com Cuba é incrivelmente popular na ilha e sua imagem já é usada como ímã para o turismo. “Sempre me perguntam quanto ao Obama, mas de fato vemos Obama como um presidente que melhorou as relações e por isso não o vemos como um cretino”, ex;lica Cristopher.
Não há estudos de opinião que sustentem a popularidade de Obama na ilha, mas é difícil encontrar cubanos que falem abertamente mal dele como acontecia com seus antecessores... nem mesmo dentro do governo.
Sua visita de três dias pode mudar por completo a imagem que várias gerações de cubanos tiveram dos presidentes dos Estados Unidos, mesmo que o embargo econômico que castiga a população ainda continue vigente.
A última vez que um presidente dos Estados Unidos esteve em Cuba foi em 1928. O discreto Calvin Coolidge não sobreviveu ao esquecimento.
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Bob Johnson, um médico americano de 59 anos, também sorriu quando viu Reagan e os Bush retradados como “cretinos”. “Obama seria diferente se tivesse sido presidente nos anos 60, 70, 80, quando tudo isso estava acontecendo”, comentou. “Mas nosso país mudou e ele representa as muitas mudanças que ocorreram”, acrescenta.
Johnson parece um turista: bermuda, chapéu para se proteger do sol e câmera fotográfica pendurada no pescoço, mas oficialmente não está fazendo turismo.
Para viajar a Cuba, teve de usar como pretexto uma viagem turísca para burlar as restrições do embargo. “Obama é popular aqui, mas também os americanos, que são mais populares aqui do que em outras partes do mundo”, diz ainda.
Em função da aproximação com os Estados Unidos, o turismo cresceu em 18% em Cuba em 2015, e as visitas de americanos aumentara 77%.
Elerida Bengtsson, professora norueguesa de 26 anos, pode fazer turismo sem problemas em Cuba, e assim como seu namorado, Hakon Dalland, de 25 anos, está feliz com Obama. “Espero que para os cubanos Obama não seja um cretino. Para mim não é. É totalmente diferente deles [os Bush e Reagan]. As coisas que ouvia do Bush não são as mesmas que ouço do Obama”, destaca.
Beisebol
A poucas quadras do Museu da Revolução, no point onde os habitantes se reunem diariamente para discutir beisebol, Obama também é assunto de bate-papo. Ainda mais que o presidente americano, torcedor do esporte, assistirá uma partida da equipo nacional cubana com os Tampa Bay das Grandes Ligas americanas.
“Vamos ouvi-lo, vamos respeitá-lo, mas ele no seu lado e nós no nosso”, ressalta Rolando Verdecia, um ex-boxeador de 89 anos.
Caridad Amador, uma farmacóloga de 62 anos, não fala de beisebol, mas sim do presidente dos Estados Unidos e questiona por que ele não se esforça mais para levantar o embargo. “Para que vem aqui? Para fazer o quê? Sinceramente, não estou de acordo que venha. Com o maior respeito, considero isso um absurdo”, sentenciou Amador.
Ao contrário de outras épocas, sua opinião já não é a da maioria dos cubanos.