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Em debate nos EUA, Trump chama Kamala de “marxista” e democrata defende o aborto
O candidato presidencial republicano Donald Trump e a candidata presidencial democrata, a vice-presidente dos EUA Kamala Harris, durante um debate presidencial organizado pela ABC News no National Constitution Center, na Filadélfia, Pensilvânia, EUA, nesta terça-feira (10)| Foto: EFE/EPA/DEMETRIUS FREEMAN / POOL

Na noite desta terça-feira (10), Kamala Harris e Donald Trump se enfrentaram em um dos debates mais aguardados da atual campanha presidencial dos EUA. O confronto, transmitido pela emissora ABC News, marcou o primeiro encontro cara a cara entre os principais candidatos à Casa Branca, em um momento em que as pesquisas indicam um empate técnico entre o republicano e a democrata.

Logo no início do debate, Kamala Harris atacou diretamente Donald Trump ao relacionar a ele o documento chamado "Projeto 2025", um plano conservador de 922 páginas que delineia uma série de políticas que poderiam ser adotadas em uma eventual administração republicana. Trump negou envolvimento com o documento e se defendeu afirmando que “todos sabem que sou um livro aberto".

O republicano adotou uma postura combativa, acusando Harris de ser uma "marxista". Em suas declarações, Trump vinculou Kamala às ideias políticas de seu pai, Donald J. Harris, um economista aposentado que foi professor da Universidade de Stanford.

"Seria o fim do nosso país. Todos sabem que ela é marxista. Seu pai era um professor marxista de economia e a ensinou bem", afirmou Trump, associando sua adversária a uma agenda socialista.

Kamala Harris, por sua vez, criticou duramente as políticas de Trump, com especial foco em questões sociais e o aborto. Ela classificou as posições do republicano sobre o aborto como "um insulto para as mulheres", destacando o “impacto negativo” que, segundo ela, as medidas adotadas por Trump teriam nas vidas das americanas.

Kamala, fazendo uma forte defesa do aborto, disse que foi Trump quem indicou os juízes para a Suprema Corte que derrubaram a jurisprudência do caso Roe vs. Wade, de 1973, que devolveu aos estados a decisão sobre o tema.

"Não é necessário abandonar sua fé para entender que o governo - e Donald Trump certamente -, não deveria dizer a uma mulher o que fazer com seu corpo", declarou a candidata democrata.

Trump, por sua vez, reafirmou sua posição de que o aborto nos EUA deve ser decidido a nível estadual e acusou os democratas de serem radicais em suas políticas sobre o tema. Ele foi além e direcionou suas palavras diretamente ao candidato a vice-presidente de Kamala, Tim Walz, acusando-o de apoiar o aborto até os 9 meses, algo que o republicano descreveu como uma execução após o nascimento, uma acusação que Kamala prontamente repudiou.

Trump também defendeu seu apoio à proibição do aborto a partir das seis semanas, atualmente em debate na Flórida. No entanto, o republicano não respondeu se assinaria uma lei nacional que proibisse o aborto nos EUA, caso fosse aprovado pelo Congresso americano alguma legislação neste sentido.

Em outros momentos do debate, Trump não poupou críticas ao desempenho de Kamala no governo, afirmando que, se a democrata chegar à presidência, os Estados Unidos se tornariam "uma Venezuela com esteroides".

"Ela está destruindo este país, e se chegar a ser presidente, este país não terá nenhuma chance de sucesso, acabará sendo uma Venezuela com esteroides”, disse o republicano.

O ex-presidente também atacou as políticas econômicas defendidas por Kamala Harris, dizendo que ela não tem um plano real para o país e que copiou as ideias do presidente Joe Biden.

"Ela não tem um plano. Copiou o plano de Biden, e é como quatro frases que dizem: 'Oh, vamos tentar reduzir impostos'. Isso não é um plano", ironizou Trump.

Kamala, por sua vez, destacou suas propostas para apoiar famílias e pequenas empresas, além de criticar Trump por propor cortes de impostos que, segundo ela, beneficiam apenas "milionários e grandes corporações".

Casos de Trump na Justiça

Kamala Harris não hesitou em lembrar as acusações que o ex-presidente republicano enfrenta atualmente na Justiça, que listou como sendo “crimes de segurança nacional, crimes econômicos e interferência eleitoral, além de uma condenação por assédio sexual”.

“[...] Foi processado por crimes de segurança nacional, crimes econômicos, interferência eleitoral, e que foi considerado responsável por assédio sexual. Sua próxima grande aparição no tribunal é em novembro, no seu próprio julgamento criminal”, disse Harris. Trump deverá comparecer ao tribunal após as eleições, em 26 de novembro, para ouvir sua sentença no caso envolvendo o pagamento ilegal a uma atriz pornô, onde ele foi condenado pelo juiz Juan Merchan.

Trump, por sua vez, reagiu acusando os procuradores responsáveis por estes casos, em sua maioria democratas, de forjar as acusações contra ele com a intenção de neutralizar um "oponente político".

“Cada um desses casos foi iniciado por eles [os democratas] contra seu oponente político, e eu estou vencendo a maioria deles, e vou vencer o resto em [recursos de] apelação”, afirmou Trump, que também acusou a administração democrata de estar utilizando o Departamento de Justiça dos EUA de maneira partidária para perseguir adversários políticos.

Política internacional

No campo da política internacional, Trump reiterou sua afirmação de que, se reeleito, poderia resolver a guerra entre a Ucrânia e a Rússia em um único dia, conflito este que, segundo ele, não teria iniciado caso estivesse no poder.

“Eu poderia conseguir a paz entre Ucrânia e Rússia em um só dia,” afirmou Trump, sem fornecer detalhes adicionais sobre como planeja alcançar este objetivo.

A saída desastrosa dos EUA do Afeganistão também foi um tema do debate. Kamala defendeu a saída realizada por Joe Biden e atribuiu parte das dificuldades enfrentadas durante esta retirada – como o caos no aeroporto internacional de Cabul, que resultou na morte de 13 membros das Forças Armadas dos EUA -, à forma como um alegado acordo com o Talibã foi negociado por Trump. O republicano, por sua vez, defendeu seu papel no caso, destacando que seu governo havia alcançado tal acordo com o Talibã que, segundo ele, garantiria uma retirada mais rápida e sem as perdas de soldados e americanos que ocorreram.

“Nós tivemos um acordo negociado por Mike Pompeo [então secretário de estado dos Estados Unidos], era um acordo muito bom. A razão pela qual era bom é que estávamos saindo. Teríamos saído mais rápido, mas não teríamos perdido os soldados, nem teríamos deixado muitos americanos para trás”, disse Trump.

No tocante ao conflito no Oriente Médio, Kamala pediu um cessar-fogo em Gaza e condenou os ataques terroristas do Hamas a Israel, mas também criticou as alegadas mortes de civis palestinos. “Muitos palestinos inocentes foram mortos”, afirmou a democrata.

Trump, em contraste, acusou Kamala de “odiar Israel”. O republicano afirmou categoricamente que, se ele fosse presidente, o conflito em Gaza “nunca teria começado” e que, se Harris se tornar presidente em novembro, “Israel não existirá em dois anos a partir de agora”. A democrata rebateu as acusações de Trump e disse que sempre apoiou Israel.

“Eu vou resolver isso rapidamente,” prometeu Trump, sobre a guerra entre Israel e Hamas.

Capitólio

As acusações sobre o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 também estiveram no centro do debate. Kamala evocou os distúrbios daquele dia como um exemplo do que “pode ocorrer caso Trump retorne ao poder”.

Trump, em resposta, se isentou da responsabilidade pelo ato, alegando que a segurança do Capitólio estava sob a responsabilidade de Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos EUA, e da prefeita de Washington, Muriel Bowser, ambas do Partido Democrata, e não dele. “Eu não era responsável pela segurança. Nancy Pelosi era responsável. Ela não fez o seu trabalho,” disse Trump.

Biden/Kamala e atentado contra Trump

A conexão entre Kamala Harris e o presidente Biden foi outro ponto de disputa. Trump disse que uma eventual presidência de Kamala, que é a atual vice-presidente, seria como uma extensão do governo de Biden, enquanto a democrata se defendeu, afirmando que sua candidatura representa uma “nova geração de liderança”.

“O que eu ofereço é uma nova geração de liderança para este país,” rebateu Harris.

Ainda no debate, Trump afirmou que o discurso dos democratas contra ele pode ter incentivado a tentativa de assassinato que ocorreu contra durante um comício em julho. Trump indicou que o ataque contra sua vida poderia estar ligado à sua posição política e à retórica adversária.

“Eu provavelmente levei um tiro na cabeça por causa das coisas que eles dizem sobre mim”, disse Trump, lembrando que membros do Partido Democrata repetidamente afirmam que ele é "uma ameaça à democracia". "Eles são uma ameaça à democracia", disse o republicano se referindo ao Partido Democrata. A tentativa de assassinato ainda está sob investigação do FBI, que até o momento não divulgou os motivos do assassino Thomas Crooks, responsável pelo atentado.

Crise migratória

A crise migratória nos EUA voltou a ser tema neste debate. Trump novamente acusou o governo de Biden e Kamala Harris pelo caos na fronteira sul e disse que há “milhões” de pessoas “inundando” os Estados Unidos. Ele também afirmou que os imigrantes ilegais estão “roubando” empregos de negros e latinos residentes nos EUA.

"[Eles] permitiram a entrada de milhões de criminosos, traficantes de drogas, que agora estão nos Estados Unidos", disse Trump.

O republicano alegou que, com a crise migratória, países como a Venezuela se livraram de criminosos que então se deslocaram para os EUA, o que, na sua visão, está destruindo o "tecido" da sociedade americana.

"Países como a Venezuela falam, dizem 'saiam daqui', senão vocês vão ser mortos. E aí eles vêm para os Estados Unidos. O crime está caindo na Venezuela e em outros países. Sabe por quê? Porque os criminosos saíram de lá e vieram para o nosso país. Este é um dos maiores erros da história, essa permissão, e eles [Biden e Kamala] fizeram isso achando que vão ganhar votos, [...] estão destruindo o tecido que constrói a nossa sociedade. Eles destruíram a estrutura básica da nossa sociedade. No mundo todo, o crime está diminuindo, no mundo todo menos nos Estados Unidos. O crime de imigrantes que está acontecendo em níveis inimagináveis", alegou Trump.

Kamala criticou Trump por sua suposta intervenção para anular um projeto bipartidário destinado a combater o caos na fronteira sul. Ela afirmou que, apesar de seu esforço e de Biden para avançar com a lei no Congresso americano, Trump "interferiu telefonando a seus aliados" no Parlamento para bloquear a proposta. Segundo Harris, "Donald Trump pegou no telefone, ligou para seus deputados amigos e falou: 'não votem nessa lei, matem essa lei', porque ele preferiu levar esse problema à frente do que terminar com ele".

Trump encerrou sua participação no debate criticando a atuação de Kamala no cargo de vice-presidente, bem como como o governo de Joe Biden, a quem descreveu como pior “presidente dos EUA”. O republicano citou novamente os fracassos dos democratas na gestão da crise migratória, saída do Afeganistão e economia.

“Não temos um líder e não sabemos o que está acontecendo”, disse Trump. “Existem guerras no Oriente Médio, existem guerras entre a Rússia e a Ucrânia. Vamos entrar na Terceira Guerra Mundial e vai ser uma guerra como jamais foi vista com o poder das armas nucleares. Eu reconstruí as nossas forças militares e ela cedeu ao Talibã, ao Afeganistão. [Eles] permitiram que milhões de pessoas inundassem o nosso país. Muitos criminosos que destroem o nosso país. O pior presidente e a pior vice-presidente da história”, afirmou o republicano, se referindo a Kamala e Biden.

Por sua vez, a democrata finalizou sua participação dizendo que os EUA “não querem” um novo governo Trump: “Não vamos voltar”, disse ela. Kamala enfatizou suas experiências como promotora, procuradora-geral da Califórnia e senadora dos EUA, tentando se apresentar como uma alternativa para os eleitores que ainda estão indecisos.

“Acredito que o povo americano sabe que todos nós temos muito mais em comum do que aquilo que nos separa, e podemos traçar um novo caminho a seguir”, disse ela.

“Nós precisamos de um novo caminho à frente. E essa visão inclui ter um plano, entender as aspirações, os sonhos, as esperanças, as ambições do povo americano. E é por isso que eu quero criar uma economia da oportunidade, investir em pequenas empresas, em novas famílias, no que podemos fazer para proteger os idosos, para proteger os trabalhadores, para que eles consigam diminuir o custo de vida”, afirmou a candidata democrata.

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