Policiais dinamarqueses algemam manifestantes que tentaram invadir sede da conferência, em Copenhague: violência policial e 230 presos| Foto: Claus Bech/Reuters

Negociação

"Pressão vem de todos os lados"

Osny Tavares

Em uma conferência em que os interesses são múltiplos e, por vezes, conflitantes, os negociadores são constantemente pressionados pelas partes. O relato é de Ramiro Wahrhaftig, coordenador do comitê de preparação local durante a COP8, realizada em Curitiba em 2006. "Neste evento, as exigências vinham principalmente dos movimentos organizados e das ONGs. Isso ocorre em todos os momentos, e especialmente nesta COP15", avalia.

Porém, segundo ele, negociadores têm limites pré-definidos para ceder ou acatar pedidos.

Sobre a renúncia de Connie Hedegaard, presidente da cúpula da ONU sobre mudança climática, analisa: "Foi um ato político. Imagino que ela estava tendo muitas dificuldades para encaminhar algum tipo de acordo, e esta foi uma forma que ela encontrou para tentar apressar as negociações".

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A conferência do clima explodiu e implodiu ao mesmo tempo ontem, no primeiro dia de discursos dos chefes de Estado em Copenhague. Lá fora, sob neve e um frio de -1ºC, ao menos mil manifestantes confrontaram a polícia – 230 presos foram presos. Lá dentro, esforços diplomáticos para produzir um acordo terminavam de ruir. Em vez de avançar, a negociação retrocedeu.

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Mesmo reunidos noite adentro para fechar os textos de acordo que seriam levados à decisão dos ministros, os negociadores dos 193 países não chegaram a consenso – com apenas mais dois dias de reunião pela frente.

"Este é o fim do jogo, em vários sentidos’’, declarou ontem na plenária Mohamed Nasheed, presidente das Maldivas, país-ilha ameaçado pelo aquecimento global.

O texto final do LCA, o grupo que negocia o novo tratado do clima, foi considerado pela presidente da COP15, Connie Hedegaard, impossível de ser submetido à decisão, por excesso de pontos de conflito. O do Protocolo de Kyoto, que estabelece as metas de redução de emissões dos países desenvolvidos, não continha justamente isso: as metas a serem seguidas.

Hedegaard ficou de apresentar aos países uma proposta de dois novos textos, mais enxutos. E foi aí que a crise que vinha se gestando desde o início das negociações "explodiu’’, nas palavras de uma diplomata.

Muitos países denunciaram o texto dinamarquês como golpe. Um negociador latino-americano disse que o texto do LCA proposto pela Dinamarca faz concessões excessivas aos EUA.

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Um ponto criticado foi a chamada "comparabilidade’’ dos esforços de redução de emissões dos EUA. Segundo o conjunto de regras que forma a base para a negociação de Copenhague, o Plano de Ação de Bali, os países desenvolvidos que não são partes do Protocolo de Kyoto (ou seja, os EUA) devem fazer esforços de redução comparáveis aos dos países sob Kyoto, tanto em quantidade total de reduções quanto em prazo de corte. "O texto simplesmente se esqueceu dessa exigência, porque os EUA não querem comparabilidade.’’

Também despertou a ira, especialmente entre os emergentes, o fato de que o texto foi feito por um grupo pequeno, o que foi considerado pouco democrático. "Queremos que o resultado surja a partir da participação de todas as partes’’, disse em entrevista coletiva o negociador-chefe da China, Su Wei.

"Esperamos que o documento final traga os dois textos produzidos pelos líderes dos grupos de trabalho em um processo de baixo para cima’’, acrescentou o chinês.

Renúncia

Nem mesmo a presidência da conferência se manteve. Connie Hedegaard renunciou ontem ao posto, para cedê-lo ao premiê dinamarquês Lars Rasmussen. O movimento era previsto, uma vez que Copenhague receberá 130 chefes de Estado e a cúpula precisa ser presidida por um chefe de Estado. Mas isso parou os diálogos ontem.

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Enquanto negociadores patinam, países como as Maldivas se desesperam. "A ciência é muito clara: um aquecimento acima de 1,5ºC afogará meu país’’, disse Nasheed, emocionado. "Qualquer um que diga que não é possível limitar isso está dizendo que não é possível salvar meu país.’’