Desacreditado pela maior parte dos americanos, o presidente dos EUA, Barack Obama, iniciou nesta terça-feira (28) um contra-ataque para retomar o controle da agenda política e sua popularidade, influenciar as eleições de novembro e definir seu legado na Presidência, prometendo "um ano de ação".
Em seu quinto discurso anual sobre o Estado da União, em sessão do Congresso transmitida ao vivo, ele declarou que não vai mais esperar a colaboração dos republicanos para implementar sua agenda, necessária, defendeu, para reduzir a desigualdade de renda histórica e restaurar as oportunidades econômicas e sociais para a classe média e os pobres, no que chamou de "projeto definitivo de nossa geração."
Desafiando a oposição, que barrou sua agenda legislativa em 2013 e promete manter-se inflexível, Obama decidiu aprofundar o uso de ordens executivas - que alteram políticas sem o aval parlamentar - e anunciou doze delas, abrangendo do mercado de trabalho à previdência, de energia à educação.
"Algumas medidas requerem aprovação do Congresso, e eu estou disposto a trabalhar com todos vocês. Mas os Estados Unidos não ficam parados, e nem eu ficarei, então tomarei sempre possível medidas que não dependam de legislação para expandir a oportunidade para as famílias americanas, isso é o que eu farei", dirá Obama, de acordo com o material enviado pela Casa Branca.
A primeira ordem executiva anunciada por Obama foi a exigência de um salário mínimo para todos os que trabalham subcontratados pelo governo federal.
"Nas próximas semanas, eu assinarei um decreto exigindo que as empresas contratadas pelo governo paguem o salário justo de US$ 10,10 a hora porque quem cozinha para nossas tropas e lava nossos pratos não deve viver na pobreza", disse.
Sobre a reforma de imigração, um dos pontos mais importantes das campanhas de Obama, o presidente falou pouco e pediu: "vamos aprovar a reforma da imigração esse ano".
"Economistas independentes afirmam que a reforma da imigração irá fazer crescer nossa economia diminuir nosso deficit em até US$ 1 trilhão nas próximas décadas", disse o presidente.
Reforma da NSA
Principal figura dos atritos globais e domésticos causados pelas revelações de Edward Snowden, um ex-técnico da CIA, de que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, da sigla inglês) espionou líderes aliados, Obama afirmou que irá reformar os programas de vigilância.
"Trabalhando com o Congresso, eu irei reformar nossos programas de vigilância, porque é vital que o trabalho da nossa comunidade de Inteligência tenha confiança do pública.
O presidente pediu ainda que o Congresso "levante as restrições que restam" sobre a transferência de prisioneiros e o ajude a fechar a prisão de Guantánamo.
Na política externa, o presidente fez uma defesa de suas ações diplomáticas em relação à Síria e ao Irã.
"Em um mundo de ameaças complexas, nossa segurança e liderança dependem de todos os elementos de nosso poder - incluindo uma diplomacia forte e de princípios" para logo depois reafirmar que vetaria qualquer nova sanção contra o Irã.
"Deem um aumento para América"
O presidente americano, porém, iniciou sua fala defendendo ações educacionais e as conquistas econômicas de sua Presidência. Segundo Obama, o país está mais independente da importação de petróleo e é preferido pelos investidores, em detrimento da China. Com a economia como principal linha condutora de seu discurso, o presidente pediu "dê um aumento para a América" - se dirigindo para que empresários melhores os salários de seus funcionários.
O presidente americano disse que os EUA é o pais "mais preparado" para o século XXI para logo em seguida criticar os republicanos.
"Mas quando o debate nos impede de tratar das funções mais básicas de nossa democracia, quando nossas diferenças fecham o governo e ameaçam a fé plena e o crédito dos Estados Unidos, então não estamos fazendo o certo pelo público americano", afirmou.
Obama afirmou criticou duramente a pobreza em que vivem muitos americanos.
"Hoje, após quatro anos de crescimento econômico, vemos os lucros e ações em uma alta em que raramente estiveram, e os que estão no topo nunca estiveram melhor. Mas os salários médios praticamente não se moveram. A desigualdade piorou. A mobilidade social está paralisada", disse.
Para ajudar a combater o desemprego, ele afirmou que lançará mais seis centro tecnológicos no país. O presidente defendeu ainda a importância dos fundos federais para criação de indústrias inovadoras como o Google e pediu que o Congresso volte a alocar fundos para pesquisa. Segundo Obama, os investimentos em novas tecnologias também devem se direcionar para formas limpas de energia, e não para o setor do petróleo.
Na plateia, a primeira-dama Michelle Obama recebeu em seu camarote convidados ecléticos, para demonstrar uma ampla coalizão - com destaque para as mulheres. Havia sobreviventes do atentado terrorista à Maratona de Boston, representantes dos dreamers (jovens imigrantes), expoentes de ações educacionais do governo, pessoas afetadas por cortes de auxílios a desempregados e beneficiadas pela reforma da saúde, grandes executivos, entre outros.
Alerta republicano
Os republicanos, entretanto, afirmavam antes do discurso que irão contra-atacar e dificultar ainda mais a vida do presidente caso ele resolva governar sem o Congresso.
"Ele pode ou trabalhar conosco para criar oportunidades e prosperidade. Ou ele pode emitir notas para a imprensa. Essa é a escolha que o presidente tem esse ano", disse Brendan Buck, porta-voz do presidente da Câmara, John A. Boehner.
Na agenda doméstica, o presidente também deveu fortemente o chamado Obamacare, que teve vários problemas em seu lançamento e reafirmar os avanços da econômia após a crise de 2008. Um dos principais motivos do conflito com os republicanos, ele brincou:
"Mas não espero que os republicanos reconheçam esses méritos", disse sobre os exemplos que havia citado sobre americanos que passaram a ter acesso à saúde.
No plano internacional, Obama pode reafirmar o poder americano, como fez seu secretário de Estado, Jonh Kerry, e rebater críticas internas em relação aos avanços diplomáticos que promoveu com o Irã e a maneira como a Casa Branca lida com as conversas de paz sobre a Síria.
Desde que as atuais pesquisas de opinião começaram a ser feitas, na década de 1930, apenas George W. Bush fez seu discurso do Estado da União no sexto ano de governo com índices piores do que os de Obama nesta terça-feira. Só 16% dos americanos estão confiantes ou otimistas de que ele irá bem até o fim de seu mandato, contra 33%, que estão pessimistas ou preocupados, segundo Wall Street Journal/NBC.