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Em encíclica, papa associa crise ambiental a crise ética e moral

A encíclica “Laudato Si”: papa questiona o antropocentrismo desordenado e o relativismo moral. | Max Rossi / Reuters
A encíclica “Laudato Si”: papa questiona o antropocentrismo desordenado e o relativismo moral. (Foto: Max Rossi / Reuters)

O Vaticano publicou ontem a encíclica do papa Francisco sobre questões ambientais. No documento, o papa diz não ser suficiente conciliar o “cuidado da natureza com o ganho financeiro” e pede que os países ricos aceitem “um certo decréscimo” de seu consumo para frear o impacto sobre o meio ambiente. O pontífice relaciona a crise ambiental a uma crise ética e moral.

Batizado de “Laudato Si (Louvado Sejas, em italiano medieval) — Sobre o cuidado da casa comum”, o documento de 192 páginas está disponível em cinco línguas: português, inglês, espanhol, italiano e alemão.

“Não parece viável um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião humano.”

Papa Francisco, na encíclica “Laudato Si”

O texto cita a necessidade de reduzir a emissão de poluentes e buscar energias renováveis, mas Francisco não se apoia apenas em soluções técnicas. No capítulo 3, o pontífice sugere uma avaliação mais ampla: ética e moral. A crise, para ele, se manifesta em vários aspectos. Um deles é a “confiança cega nas soluções técnicas”.

“Uma ciência, que pretenda oferecer soluções para os grandes problemas, deveria necessariamente ter em conta tudo o que o conhecimento gerou nas outras áreas do saber, incluindo a filosofia e a ética social”, diz no parágrafo 110.

Francisco também denuncia a mentalidade do “might makes right”, a noção de que o fato de algo ser tecnicamente viável também o torna moralmente lícito. O antropocentrismo desordenado e o relativismo moral e ético, que absolutiza as vontades e convicções individuais, desprezando a busca pela verdade objetiva, também são criticados.

O pontífice ainda aponta a incongruência dos que se dizem defensores do meio ambiente, mas tratam o ser humano como criatura de segunda categoria, favorecendo o antinatalismo, o aborto e a pesquisa com embriões humanos.

“A igreja atribui às ciências e à técnica um papel importante na resolução dos problemas que enfrentamos. Mas as soluções plenamente eficazes temos que buscar no domínio da moral e da ética. Por isso se diz que vivemos uma crise moral”, avalia o sociólogo e antropólogo Felipe Dittrich Ferreira, membro do Movimento Católico Global pelo Clima.

Entidades aprovaram o texto. Christiana Figueres, secretária-geral do Secretariado da Mudança Climática da ONU, disse que a encíclica representa um incentivo para que os governos cheguem a um pacto quando se reunirem na cúpula climática em Paris, no fim do ano. “Este clamor deveria guiar o mundo rumo a um acordo climático universal forte e duradouro em Paris no final do ano”, disse Christiana.

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