Os chanceleres e ministros de Economia do Mercosul discutiram na quinta-feira a criação de instrumentos para superar as assimetrias entre seus membros, em meio a críticas da Venezuela aos empresários e ao Congresso do Brasil.
A reunião acontece num hotel nos arredores de Assunção, na véspera de uma cúpula semestral que desta vez terá a participação de sete presidentes sul-americanos.
Apesar da ausência do venezuelano Hugo Chávez, em visita oficial à Rússia, seu país esteve novamente no olho do furacão devido a um aparente atrito com o Brasil, ainda consequência da polêmica decisão de não renovar a licença do canal oposicionista RCTV.
O ministro venezuelano das Finanças, Rodrigo Cabezas, afirmou que Caracas não pedirá desculpas ao Congresso brasileiro por declarações em que Chávez acusou os parlamentares de serem "papagaios" de Washington, por condenarem o fechamento do canal.
Antes, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, pedira boa vontade da Venezuela para superar o episódio.
"A Venezuela e seu presidente não têm por que se retratar ou desculpar. Não precisamos dar uma demonstração de amor", disse Cabezas, afirmando ser inaceitável que o Congresso brasileiro condicione a esse pedido de desculpas a aprovação do protocolo de adesão plena da Venezuela ao Mercosul.
Já o vice-chanceler venezuelano, Rodolfo Sanz, acusou a Confederação Nacional das Indústrias do Brasil de "boicotar o processo de integração" ao divulgar um documento que cita a Venezuela como um elemento prejudicial à pauta comunitária.
BANCO DO SUL É ADIADO
Os ministros aprovaram um plano de superação de assimetrias e a criação de um fundo de apoio a pequenas e médias empresas. Além disso, decidiram ampliar outro fundo, criado em 2005, para financiar obras de infra-estrutura nos países menos desenvolvidos do bloco.
"Há consciência das desigualdades, das assimetrias e sobretudo de que, se não as superarmos, não poderemos dar uma integração mais real a nossas economias", disse Sanz.
Os ministros ouviram um relatório preparado pelo Paraguai, que preside o Mercosul atualmente, com ênfase na necessidade de encontrar uma saída aos entraves comerciais que frequentemente o país enfrenta para o trânsito de seus produtos. Paraguai e Uruguai, os menores sócios do bloco, são os que mais se queixam das assimetrias.
"A livre circulação e o acesso aos mercados registram um sério déficit no ativo da construção comunitária", disse o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez.
Durante a reunião, os países que defendem a criação do Banco do Sul fixaram para julho uma nova reunião técnica e celebraram a incorporação do Uruguai como seu novo sócio.
Os países esperavam firmar a ata de fundação do projeto no final de junho, mas marcaram para 19 e 20 de julho em Caracas uma reunião técnica em que devem ser definidos aspectos como aporte de capital e estrutura acionária.
O Banco do Sul é uma iniciativa de Chávez para fazer frente à influência de organismos financeiros multilaterais, tais quais o FMI e o Banco Mundial.
Venezuela, Argentina, Brasil, Bolívia, Equador e Paraguai participam do projeto.