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| Foto: Monica Davey/AFP

Este domingo (17) seria só mais um dia de sol esplêndido na Riviera Francesa, mas os cidadãos de Nice saíram ao passeio marítimo para chorar e homenagear as 84 pessoas que morreram atropeladas na noite de 14 de julho.

A avenida beira-mar foi reaberta parcialmente ao tráfego de carros, preservando-se o trecho de 2 km onde ocorreram as mortes por atropelamento. Por ali passa incessantemente uma multidão silenciosa, atenta à dor assinalada no asfalto.

Nos pontos onde os corpos foram encontrados, as manchas de sangue não puderam ser totalmente apagadas. Parentes e amigos das vítimas cobriram as marcas com flores, velas, bilhetes, bandeiras da França.

O caminhão transformado em arma pelo tunisiano Mohamed Lahouaiej Bouhlel saiu da faixa de rolamento e subiu no calçadão em frente ao hotel West End. Nesse trecho, o calçadão é mais largo e abrigava grande quantidade de pessoas. Doze corpos foram retirados do local.

“Foi uma carnificina, as pessoas aqui estão tremendamente comovidas. Meus clientes não falam de outra coisa. E os turistas estão indo embora, será muito difícil para a cidade, que vive disso”, diz Christian Mistura, que há 38 anos é jornaleiro na banca agora cercada pelas marcas no chão.

Brinquedos e ursos de pelúcia indicam os pontos em que cada uma das dez crianças atingidas pelo caminhão morreu. Adultos e crianças se aproximam, ajoelham-se para depositar flores. Alguns rezam. Outros sacam um lenço do bolso para enxugar as lágrimas.

“Não consigo compreender como podem matar crianças, anjos que estavam com os olhos no céu vendo fogos de artifício, é desumano”, diz Laura Salmon, moradora de Nice, acompanhada do filho de 18 meses.

Ela conta que participa quase todos os anos da festa de 14 de julho exatamente no ponto onde houve o maior número de mortes, em frente ao cassino Palácio do Mediterrâneo.

Laura e o filho só escaparam da tragédia porque o menino adoeceu na noite do dia 14 e a família decidiu ficar em casa. Ela já visitou o local várias vezes desde sexta-feira (15).

“Não vamos nos render ao medo. Temos que continuar vivendo, que celebrar a vida. Tudo o que os terroristas querem é que vivamos com medo”, disse.

O psiquiatra francês Fulvio Mazzola estava de férias quando ocorreu o atentado. Apresentou-se voluntariamente ao hospital de Nice onde trabalha na sexta-feira, e neste domingo compartilhava o luto com centenas de pessoas no calçadão.

“É preciso estar aqui. Tenho o sentimento de tristeza mas também a necessidade de solidariedade. Temos que viver esse momento juntos, expressar nossa solidariedade diante dessa violência”, diz.

Na segunda-feira, quando todos tentarão voltar à vida normal, Mazzola e um grupo de psiquiatras e psicoterapeutas estarão trabalhando no treinamento de mais profissionais para lidar com pacientes que sofrem estresse pós-traumático.

“É um momento de reflexão. É preciso estancar a espiral de violência. Responder a violência com mais violência é o pior que pode nos acontecer”, diz Mazzola.

Prisões

As autoridades francesas detiveram mais duas pessoas na investigação sobre o ataque com caminhão em Nice, na quinta-feira (14), que matou pelo menos 84 pessoas.

Um funcionário do escritório do promotor de Paris, que supervisiona investigações nacionais de terrorismo, disse que um homem e uma mulher foram detidos na manhã deste domingo (17), em Nice, mas não deu detalhes sobre suas identidades. O funcionário disse que cinco pessoas detidas anteriormente permanecem sob custódia.

As autoridades estão tentando determinar se o motorista do caminhão, Mohamed Lahouaiej Bouhlel, um tunisiano de 31 anos, agiu sozinho ou não para realizar o ataque.

O grupo Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade do atentado, embora pessoas próximas de Bouhlel digam que não notaram nenhum sinal de radicalismo, apenas raiva.

Radicalização

O primeiro ministro francês Manuel Valls disse neste domingo (17) que Mohamed Lahouaiej Bouhlel se radicalizou recentemente.

“A investigação vai apurar os fatos, mas sabemos agora que o assassino foi radicalizado muito rapidamente”, disse Valls em uma entrevista ao jornal Le Journal du Dimanche.

“A reivindicação na manhã de sábado pelo Estado Islâmico e a radicalização rápida do assassino confirmam a natureza do ataque”, afirmou.

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