Paris (AG) A revolta nos subúrbios pobres de Paris está assumindo proporções de guerrilha urbana. Pela primeira vez desde o início dos confrontos, há uma semana, jovens revoltados atiraram na polícia e nos bombeiros, na madrugada de ontem, depois de deixarem um rastro de destruição em vários bairros: incendiaram carros, ônibus e jogaram pedras nos trens. Mais de 170 veículos foram queimados. A situação, ontem, parecia incontrolável, apesar de o governo ter mobilizado batalhões nas ruas. No subúrbio de Aulnay-sous-Bois, gangues de jovens incendiaram uma revendedora de carros, destruíram pelo menos 12 automóveis, um supermercado e um ginásio.
O tráfego chegou a ser interrompido numa linha de trem entre Paris e o Aeroporto Charles de Gaulle, depois de grupos de jovens terem atacado dois trens a pedradas. Em três incidentes separados, tiros foram disparados contra policiais e bombeiros. Apesar disso, ninguém ficou ferido.
Nos bairros chiques de Paris, a crise era o assunto nos bares e muitos parisienses comentavam que parecia o início de um novo "maio de 1968". Só que, desta vez, a revolta não é de estudantes burgueses: é de uma massa de imigrantes ou franceses de origem estrangeira que se sentem cidadãos de segunda classe, discriminados na França republicana que se orgulha de ser fundada sob o princípio da igualdade, mas que, segundo eles, não pratica o que prega. Os comentários dão idéia do fosso entre estas duas Franças: a pobre e a rica; a culta e a inculta. "Alguns destes jovens mal sabem falar. Eles se expressam só com 56 palavras. Já imaginou como é que alguém pode se expressar com 56 palavras?", questionava Arthur Aballain, de Saint-Germain des Près, uma das áreas mais nobres de Paris.
Os incidentes, que há sete dias estavam confinados a um bairro classificado pelo governo como "problemático" Clichy-sous-Bois, a 15 quilômetros da Paris das luzes, bistrôs e turistas alastraram-se por 20 bairros.
A violência foi desencadeada na semana passada depois que dois adolescentes de origem africana, Traoe Bouna, de 15 anos, da Mauritânia, e Zyed Benna, de 17, da Tunísia, achando que estavam sendo perseguidos pela polícia, refugiaram-se numa central elétrica e morreram eletrocutados. As declarações desastradas do segundo homem mais poderoso do governo, o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, ajudaram a piorar a situação. Antes mesmo do fim da investigação, o ministro partiu em defesa da polícia, dizendo que ela perseguia ladrões, quando não era o caso.
Os adolescentes jogavam futebol quando policiais chegaram para fazer controle dos documentos. Não está claro porque vários jovens correram. Mas moradores de Clichy-sous-Bois dizem que freqüentemente a polícia usa métodos violentos no bairro, gratuitamente.
Enquanto a crise do modelo francês de integração é exposta, o governo faz reuniões ministeriais de emergência e reforça o policiamento nas áreas pobres de sua bela capital.
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