O Paquistão derrubou dois jatos das Forças Armadas da Índia de dentro de seu espaço aéreo e lançou ataques contra seis alvos dentro da região controlada pela Índia na Caxemira, um dia depois que a Índia lançou bombas em território paquistanês pela primeira vez desde 1971.
Os ataques aéreos são a primeira escalada militar grave entre as duas potências nucleares em duas décadas, embora não tenha aparecido imediatamente que qualquer dos ataques tenha causado qualquer casualidade. Ambos os países reivindicam a região da Caxemira no Himalaia, que é dividida por uma “Linha de Controle” militarizada.
O Ministério das Relações Exteriores do Paquistão informou que os ataques da Força Aérea visavam "alvos não militares" para evitar perdas e danos humanos, e que seu único objetivo era "demonstrar nosso direito, vontade e capacidade de autodefesa". O órgão disse ainda que o Paquistão “não tem intenção de uma escalada, mas estamos totalmente preparados para fazê-la se forçados”.
O porta-voz militar do Paquistão, major-general Asif Ghafoor, escreveu no Twitter que dois caças indianos "cruzaram o território paquistanês e foram abatidos" na quarta-feira em resposta aos ataques de terça-feira contra o Paquistão. Ele disse que um avião indiano caiu em território controlado pela Índia e outro em uma área controlada pelo Paquistão.
Dois pilotos indianos foram presos por tropas paquistanesas.
Autoridades paquistanesas também afirmaram na tarde de quarta-feira que a Índia havia cometido “violações não provocadas de cessar-fogo” ao longo da Linha de Controle na terça-feira, resultando na morte de quatro civis, três deles mulheres. Um comunicado do Ministério do Exterior nomeou os quatro indivíduos, mas não disse onde ou como eles haviam morrido. O órgão afirmou que o ataque a áreas civis era "deplorável" e que tais violações de cessar-fogo podem levar a um "erro de cálculo estratégico".
"A ação de hoje foi em legítima defesa", disse Ghafoor, dizendo que aviões paquistaneses atingiram seis alvos perto da Linha de Controle, mas que as autoridades garantiram que não houve danos colaterais e que "nenhuma vida humana foi afetada". “A mensagem inata foi que, apesar de nossa capacidade, procuramos a paz.”
Ghafoor também disse que seria "insano falar sobre" a possibilidade de usar armas nucleares. "Não devemos falar sobre isso."
Índia investiga
Na sequência dos ataques, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, realizou uma reunião de emergência com altos funcionários de segurança. O Ministério das Relações Exteriores da Índia confirmou que um de seus pilotos está desaparecido e que o governo está apurando os fatos.
Enquanto as tensões aumentavam, vôos comerciais foram suspensos em todo o Paquistão e uma faixa do noroeste da Índia. Sites de rastreamento de voos não mostraram voos comerciais sobrevoando o Paquistão nesta quarta-feira e nenhum na maioria dos estados indianos de Punjab, Rajastão, Himachal Pradesh, Haryana e Jammu e Caxemira. A Vistara, companhia aérea indiana, escreveu que “devido a restrições de espaço aéreo”, voos nas cidades de Srinagar, Jammu, Amritsar e Chandigarh estavam suspensos. Um funcionário da Autoridade de Aeroportos da Índia se recusou a comentar.
O que está acontecendo
A tensão entre Índia e Paquistão aumentou após um bombardeio terrorista em 14 de fevereiro na região da Caxemira controlada pela Índia que matou 40 soldados paramilitares indianos. O ataque mais mortífero em 30 anos de conflito e protestos foi reivindicado pelo grupo militante paquistanês Jaish-e-Mohammed (JeM). O Paquistão negou qualquer ligação com o ataque e o primeiro-ministro Imran Khan se comprometeu a investigar se a Índia apresentava provas confiáveis do envolvimento paquistanês.
Na terça-feira, a Índia alegou que seu bombardeio foi dirigido a um campo de treinamento operado por Jaish-e-Mohammed, e que teria matado dezenas de militantes em retaliação pelo ataque na Caxemira. Mas o Paquistão sustenta que as bombas indianas caíram em uma área rural, sem perda de vidas.
Funcionários dos dois países afirmaram que não procuraram intensificar as tensões, mas um clima beligerante se espalhou pelas estações de notícias paquistanesas na quarta-feira. Canções de guerra foram tocadas, comentaristas elogiaram as forças armadas do Paquistão e gritos de "Deus é o maior" podem ser ouvidos. Imagens de um avião indiano com detritos em chamas foram mostradas repetidamente.
Para a Índia, que enfrentou uma sucessão de ataques terroristas ligados ao Paquistão em seu território, o ataque na Caxemira pareceu ter cruzado uma linha vermelha. E com as eleições nacionais de maio, o primeiro-ministro Narendra Modi sentiu uma oportunidade para polir sua imagem e satisfazer as demandas generalizadas de vingança que circulam nas redes sociais e nos canais de TV a cabo do país. "Hoje sinto um fervor na multidão", disse ele em um comício na tarde de terça-feira. “O país está em boas mãos”.